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quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

A guerra dos países árabes contra seus cidadãos judeus



  Casa incendiada na cidade de Aden, no Iêmen, durante os tumultos em 1947, quando 82 judeus foram assassinados. 


Sessenta e cinco anos atrás, os Estados árabes iniciaram uma guerra contra seus indefesos cidadãos judeus. Os árabes foram atrás de sua população judaica antes mesmo de qualquer refugiado árabe ter deixado o território onde hoje está Israel.

Segue abaixo um resumo dos acontecimentos que se seguiram à rejeição árabe da resolução 181 da Assembleia Geral da ONU,  em 29 de novembro de 1947, que dividiu a Palestina em um Estado judeu e um segundo Estado árabe.


A tensão entre árabes e judeus atingiu um novo ápice no outono de 1947, enquanto a ONU debatia a criação do Estado judaico.
Dr. Muhammad Husein Heykal, presidente da delegação egípcia, advertiu que um milhão de judeus que viviam nos países árabes ficariam em perigo graças a partilha.

Uma nova onda de violência se espalhou pelo Oriente Médio após a votação a favor da partilha em 29 de novembro de 1947. Grandes manifestações foram convocadas para os dias 02-05 de dezembro, e um massacre no bairro judaico do Cairo só foi evitado por causa da ação da polícia.

No Bahrein, no dia 5 de dezembro, multidões saquearam casas e lojas judaicas e destruíram sinagogas. Duas senhoras idosas foram mortas.

Em Alepo, na Síria, a comunidade judaica foi destruída por uma multidão liderada pela Irmandade Muçulmana. Pelo menos 150 casas, 50 lojas, todas as 18 sinagogas, cinco escolas, um orfanato e um clube de jovens foram destruídos. Muitas pessoas foram mortas, mas o número exato não é conhecido. Mais da metade dos 10.000 judeus da cidade fugiram para a Turquia, Líbano e Palestina.

File:Allepo1947.jpg
Ruínas da sinagoga centra de Aleppo depois do pogrom de 1947


Em Aden [Iêmen], a polícia não conseguiu conter os distúrbios. Até a ordem ser restaurada, no dia 4 de dezembro, 82 judeus foram mortos; das 170 lojas judaicas, 106 foram destruídas. Duas escolas e uma sinagoga foram queimadas.


Judeus iemenitas em um acampamento em Aden esperando a chande de ir para Israel (1948 - 49). 

No Marrocos os franceses ainda mantinham um forte controle sobre a população. No entanto, 6 meses depois, tumultos causaram a morte de 48 judeus.


Resultado do pogrom de Fez, Marrocos

O jornal 'Palestine Post' publicou um editorial intitulado "reféns relutantes" em 11 de dezembro de 1947. Ele citava um editorial do jornal britânico 'The Guardian' do dia anterior, intitulado "Reféns". Eles deploravam declarações inflamatórias feitas por líderes árabes que poderiam ser interpretadas como ameaças contra as minorias judaicas de seus países. Tanto na Síria quanto no Iraque "pressão foi colocada sobre os judeus para denunciar o sionismo e apoiar a causa árabe. Nem sequer podemos imaginar que tipo de ameaças [contra os judeus] foram feitas para que isso acontecesse."

File:Farhud mass grave.jpg
Vala comum onde estão enterradas as vítimas do Farhud (massacre de judeus iraquianos)


Os motins da semana anterior foram atribuídos a "fúria do povo" pelos governos árabes. O editorial denunciava que "os governos olhavam para os criminosos com um olhar benevolente."

O governo libanês emitiu ordens de expulsão contra os judeus palestinos que estavam no Líbano. O 'Palestine Post' de 22 de dezembro de 1947 trazia um relatório sobre as duras medidas que a Liga Árabe estava considerando tomar contra seus cidadãos de origem judaica. Primeiro eles perderiam sua nacionalidade, seus bens seriam confiscados, suas contas bancárias congeladas e eles seriam tratados como inimigos estrangeiros.

"Embora não haja notícias sobre a aceitação desta resolução pela Liga Árabe, é significativo e trágico que tal documento tenha sido redigido", o editorial lamentou. "É fácil para eles jogar com a vida, aterrorizar e manter um espada sobre as cabeças das muitas centenas de milhares de judeus que estão à sua mercê."

Embora não tenha sido aprovada, vários aspectos da resolução da Liga árabe foram adotadas por seus governos. Defensores dos direitos humanos e o ex-ministro da Justiça canadense, Irwin Cotler, classificaram as medidas como dignas de 'Nuremberg'.

No momento em que Israel foi estabelecido, em 15 de maio de 1948, as comunidades judaicas nos países árabes já haviam sido profundamente abaladas. Como disse Norman Stillman, a partilha foi um fator importante, mas não foi o único -- ele foi mais um catalisador. O nascente nacionalismo árabe islâmico não conseguia encontrar espaço para grupos étnicos e religiosos que se desviavam da norma, e os judeus encontraram-se alienados e isolados da sociedade em geral.


Judeus dos países árabes

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Os refugiados esquecidos: 900 mil judeus de países árabes

Quase não se ouve falar deles. Eles não ocupam muito espaço nas manchetes de jornais e nem nos fóruns de debates sobre direitos de minorias perseguidas ao longo da história. 



Sha'ar ha'aliya, campo de refugiados em Israel para judeus vindos de países árabes 


Dos cerca de 850 mil judeus que viviam no mundo árabe, restam atualmente apenas cerca de oito mil. Do total de refugiados, dois terços foram para Israel e seus descendentes formam mais de 50% da população judaica do país. O restante buscou abrigo nos Estados Unidos, Canadá, México, França e América do Sul.

Atualmente, as maiores comunidades judaicas em países de maioria muçulmana estão no Marrocos e na Síria. Enquanto a primeira está diminuindo gradativamente, a segunda permanece estável em função da política adotada pelo governo de Damasco, que não permite a emigração dos judeus. Para visitar parentes no exterior, os membros da comunidade devem oferecer garantias financeiras e deixar familiares próximos como reféns, como prova de que retornarão ao país.

 O tema dos refugiados judeus obrigados a abandonar seus países de origem está na pauta de discussão do mundo judaico nas últimas quatro décadas. Em 1975 foi criada a Organização Mundial dos Judeus dos Países Árabes (World Organization of Jews from Arab World - Wojac). Desde então, o seu objetivo vem sendo o reconhecimento dos seus direitos e a busca de uma solução justa para esta população. A Wojac é, em essência, a contra-partida ao reconhecimento mundial do chamado status dos refugiados palestinos. Em 1967, uma resolução das Nações Unidas determinou o reconhecimento dos direitos legais de todas as populações deslocadas. A batalha das entidades judaicas neste sentido, no entanto, tem sido dura - das 681 resoluções aprovadas pelas Nações Unidas em relação ao Oriente Médico, 101 referem-se aos direitos palestinos e nenhuma faz sequer menção aos refugiados judeus. Para Stanley Urman, diretor executivo da entidade Justiça para Judeus dos Países Árabes (Justice for Jews from Arab Coutries -JJAC), a ONU deve deixar bem claro que quando se fala em refugiados deve-se reconhecer que no Oriente Médio há duas populações, que ambos os assuntos devem ser abordados da mesma maneira".

O destino dos judeus dos países árabes ganhou destaque também através de dois filmes de Carole Basri, uma professora da Faculdade de Direito da Universidade da Pensilvânia. Bisneta do rabino-chefe de Bagdá, além das películas The Life of Frank Iny e Searching for Bagdhad, ela publicou um artigo na Fordham International Law Journal sobre a história dos judeus no mundo árabe. Basri costuma afirmar: "Minha família estava no Oriente Médio há aproximadamente três mil anos. Quantas pessoas são capazes de traçar suas origens em um passado tão distante?" A professora da Universidade da Pensilvânia é apenas mais uma entre os milhares de descendentes dos refugiados judeus de países muçulmanos que ainda buscam o reconhecimento de seus direitos. Segundo dados do Wojac, as perdas materiais dos judeus nas décadas de 1940 e 1950 nessa região chegam a mais de US$ 10 bilhões. A JJAC também fez um estudo semelhante, envolvendo cerca de dez países, e obteve números aproximados.

As lembranças daqueles que foram obrigados a deixar seus lares estão recheadas de sensações como medo, insegurança e incertezas. Se antes de 1948 a vida já não era muito fácil, a situação tornou-se ainda mais complicada após este ano, piorando sensivelmente após a descoberta do fato de que seus vizinhos e, muitas vezes até aqueles considerados próximos, desejavam a sua morte.
Joseph Abdel-Wahed, por exemplo, que vivia no Cairo, Egito, não consegue esquecer o dia em que o seu melhor amigo de escola lhe disse com um sorriso no rosto: "Um dia nós cortaremos a garganta de todos os judeus".
Abdel-Wahed vive há mais de 40 anos em São Francisco. Sobre os anos passados no Egito, ele conta: "Se você faz parte de uma minoria que vive em um país muçulmano e deseja sobreviver, deve ser sempre subserviente. E mesmo assim, jamais deixará de ser considerado um cidadão de segunda classe. No Egito, mesmo que enfrentando dificuldades, podíamos nos considerar afortunados, pois a situação era muito mais delicada no Iêmen, na Síria, na Líbia e no Iraque". Segundo ele, foi somente a partir de 1945, quando o Egito se uniu aos demais países árabes na perseguição aos judeus, que os problemas começaram de fato. A população judaica perdeu a cidadania, muitos de seus membros foram presos ou demitidos de seus empregos. A joalheria de sua família, por exemplo, foi confiscada em 1952 e havia até uma recompensa para quem prendesse o seu pai. Diante destas circunstâncias, a família fugiu para a França.

Nascida na Líbia, Gina Malaka Waldman relembra com terror a fuga de sua família do país, quando o motorista do ônibus que os levava ao aeroporto tentou incendiar o veículo deixando-os presos. "Ele pretendia nos queimar vivos". Ela falou deste triste episódio de sua vida durante uma palestra na Universidade Brandeis, em Boston, para uma platéia de estudantes. Compartilhando lembranças de sua infância, Gina falou também sobre seus jamais esquecidos vizinhos judeus, que foram levados e assassinados por milícias quando acreditavam estar sendo encaminhados para campos de refugiados. A comunidade contava então com 33 mil membros. Não há mais nenhum. Ela é atualmente presidente da Jimena, uma das inúmeras organizações que reúne os judeus oriundos do mundo árabe. À medida que o tema ganha espaço, surgem novos projetos que têm como objetivo garantir não apenas o reconhecimento dos direitos desses refugiados, mas também obter indenizações.

O Ministério de Justiça de Israel, por exemplo, está organizando um banco de dados em parceria com outras entidades. Inicialmente estão sendo recolhidas informações sobre aqueles que foram para Israel e, no futuro, incluirá os que se abrigaram em outros países. A Federação Mundial Sefaradita (World Sephardic Federation), por exemplo, já entrou com uma ação contra a Liga Árabe pedindo indenização por perda de propriedades. O Congresso Mundial Judaico, por sua vez, deu início a um trabalho de recolhimento de depoimentos de refugiados.A JJCA foi fundada em 2002 e atua sob os auspícios da Conferência dos Presidentes das Principais Organizações Judaicas Americanas, do Comitê Judaico Americano, do Congresso Judaico Americano, da Liga Anti-Difamação (Anti-Defamation League), da Federação Sefaradita Americana e da Wojac, além das Comunidades Judaicas Americanas Unificadas e da Organização Hadassah. Ainda que vivendo e perfeitamente adaptados em vários países, os refugiados lembram com carinho de sua terra natal. Reading Dallal, que viu seu tio ser enforcado em Bagdá, afirma que, apesar de tudo, gostaria de levar sua família para conhecer os lugares nos quais passou a sua infância. Radicado nos EUA, diz: "Eu sou capaz de traçar as raízes da minha família até oito gerações que me antecederam e, cada vez que sou chamado à Torá, procuro ter certeza de que pronunciei todos os oito nomes. É a maneira que encontrei para lembrar a mim mesmo, a meus filhos e netos a longa tradição à qual pertencem".

 Segundo os estudos, cerca de 90% dos judeus do mundo viveram até a Idade Média no que é atualmente chamado de "terras árabes", tendo chegado à Europa a partir dos séculos XIV e XV. Para Yitzhak Santis, diretor de Assuntos para o Oriente Médio do Conselho de Relações da Comunidade Judaica em São Francisco, não se pode esquecer que não apenas a rainha Esther e Maimônides são judeus de origem oriental, mas o Talmud ainda usado na atualidade foi escrito na Babilônia. Assim, esquecidos durante décadas, os judeus refugiados dos países árabes começam a tornar-se um assunto cada vez mais debatido com tendência a ser incluído na discussão geral sobre a paz no Oriente Médio.

População judaica nos países árabes: 1948 a 2001
País ou territóriopopulação
judaica (1948)
 % de judeus sobre a população total (1948)Emigrados a IsraelPopulação judaica
estimada (2001)19
Aden8.000Véase Yemen~0
Argélia140.0001,6%24.000~0
Bahrein6000,5%N/A36
Egito80.0000,4%37.000~100
Iraque140.0002.6%130.000~200
Líbano20.0000,4-1,5%4.000< 100
Libia38,0003,6%35.8000
Marrocos 265,000202,8%266.300245.230
Síria30,0000.4-0.9%8.500~100
Túnis50.000 - 105,0001,4-3,0%52.000~1.000
Iêmen55,0001,0%50.600 (Iêmen e Aden somados)~200
Total 881.000608.200<6 .500="" b="">
População judaica no países muçulmanos não árabes: 1948 a 2001
País ou territórioPopulação judaica
(1948)
População judaica
estimada (2001)
Afeganistão5.0001
Irã140.000–150.00011.000-40.000
Paquistão2,000N/A
Turquia80,00018,000-27,000
A presença judaica no Oriente Médio, Norte da África e na região do Golfo Pérsico precede em milhares de anos o nascimento dos modernos estados árabes e da religião islamica.