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segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Sabra e Chatila e o Massacre de Damour

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Com a morte de Ariel Sharon, todas as velhas acusações de responsabilidade no massacre de Sabra e Shatilla voltaram ao noticiário -- apesar de a investigação militar realizada tê-lo considerado apenas "indiretamente responsável" pelo ocorrido e do governador de Beirute, Antoine Lahad, ter afirmado ao jornal Yedioth Aharonoth que Sharon nada sabia e que não teve participação alguma no ocorrido. Em sua opinião o único erro do então ministro da defesa foi ter permitido que a milícia libanesa Falange entrasse nos campos de refugiados.

Um fato importante é que, na maioria das vezes, a Falange sequer é mencionada quando o massacre é discutido. O que torna o caso ainda pior é que o grupo ("Keta'eb", como é chamado nos dias de hoje no Líbano) ainda é um partido político ativo no país. Então ficamos assim: o grupo que atuou ativamente no campo e que foi responsável pelas mortes nem mesmo é mencionado enquanto Sharon leva toda a culpa pelo ocorrido... 



As Falanges Libanesas

O grupo controlado pela família Gemayel foi formado em 1936, como uma organização paramilitar de jovens cristãos maronitas.
Ao criar o partido, Pierre Gemayel se inspirou na Falange Espanhola e no Partido Nacional Fascista italiano. Outro movimento que serviu de inspiração foi o Nacional Socialismo alemão, que ele conheceu quando esteve em Berlim como atleta nas Olimpíadas de 1936. Na época nenhuma dessas ideologias tinha a reputação que tem hoje e, em entrevistas, Gemayel afirmou que o "Nazismo veio depois", e que nesses regimes ele via disciplina, e que "no Oriente Médio necessitamos de disciplina mais do que qualquer outra coisa".                         


File:Logo of Kataeb Party.svg
                                                         Símbolo do Keta'eb/ Falange


O partido nutria um forte sentimento nacionalista -- baseado no cristianismo e em suas origens fenícias -- e se opunha tanto à presença de países ocidentais no Líbano quanto ao pan-arabismo [1] [2], o que aproximava seus membros de Israel -- mas não tanto quanto a Igreja Maronita desejava.



O Massacre de Damour 

Em 20 de Janeiro de 1976, durante a guerra civil libanesa, uma cidade cristã ao sul da capital Beirute foi atacada pela Organização para a Libertação da Palestina (OLP), que tinha se unido a grupos muçulmanos libaneses contra os cristãos. Parte da população do local morreu em batalha e centenas foram assassinados no massacre que se seguiu. O número de civis maronitas mortos ficou entre 150 e 582.

O massacre de Sabra e Chatila foi uma resposta ao massacre de Damour e a anos de violência anti-cristã por parte dos muçulmanos libaneses e de seus aliados árabes-palestinos.


No video abaixo o poeta Said Akl, um dos maiores ícones do nacionalismo libanês, dá o tom do sentimento pro-Israel e anti-palestino que imperava entre os cristãos libaneses. As tensões sectárias no país nunca arrefeceram, e uma nova guerra civil é apenas questão de tempo.


[Tradução]

Não há um segundo passo, há apenas um [passo] para o herói Beguin (então primeiro-ministro de Israel): limpar o Líbano dos palestinos. Isso é o que o Líbano quer.
Se isso não acontecesse eu me sentiria tremendamente infeliz, assim como o resto da população libanesa.

Assim que o exército israelense entrasse no Líbano, todo o Líbano deveria ter se levantado e lutado ao seu lado. Se eu tivesse um batalhão militar, eu iria agora mesmo lutar ao lado do exército israelense.
Hoje no meu jornal, eu agradeci ao exército israelense num editorial chamado "Israel está aqui". Eu escrevi: "estou feliz por dois motivos: porque o exército está salvando a nós e ao mundo e [porque] está mostrando a cabeça da serpente ao mundo -- que se chama terrorismo" -- e eu vou falar sobre isso depois. 
Mas eu também estou triste porque não somos nós que estamos salvando o Líbano com os Israelenses, salvando dessa imundice palestina racista e sanguinária, que lidera o terrorismo no mundo.

Pergunta: E por que você não tomou parte na operação?

Eu acredito que existam alguns políticos corruptos no Líbano, e a maioría deles está no governo. Eles não permitíram que os libaneses tomassem partido.
O povo libanês travou uma boa guerra contra os palestinos, mas [Yasser] Arafat enganou e extorquiu os países produtores de petróleo e agora tem mais de 70 bilhoes de dólares. Nesses últimos dois dias ele comprou líderes na Europa e nos Estados Unidos para agir contra você, para dizer que este exército [de Israel] que está salvando o Líbano é um invasor -- mas qualquer um que diga isso deveria ser decapitado!
Em nome do Líbano, eu te digo que esse é o único exército da salvação. 

sábado, 21 de dezembro de 2013

Acordo Sykes-Picot, a criação do Oriente Médio como o conhecemos

Um século atrás, as potências européias redesenharam as fronteiras do Levante de acordo com suas próprias necessidades. Essas potências se foram mas o mapa permanece, juntamente com uma ironia: enquanto os europeus encontraram uma maneira melhor para definir suas próprias fronteiras, os estados que eles criaram depois de tomar a região do império otomano continuam a queimar e a se auto-destruir.


Mapa que mostra o território controlado pelo império turco-otomano no ano de 1914


Províncias otomanas se tornaram reinos árabes, enquanto enclaves cristãos e judeus foram criados no Líbano e na Palestina. 
Síria, Líbia e Palestina receberam nomes ressuscitados da antiguidade romana -- a Líbia reapareceu em 1934, quando os italianos juntaram Cirenaica, Tripolitânia e Fezzan. O mandato francês marcou a primeira vez que o nome "Síria" foi usado como o nome de um estado, ao passo que "Palestina" era apenas uma província síria. O Iraque tinha sido uma província medieval do califado, enquanto "Líbano" se referia a uma montanha e "Jordânia" a um rio.

Os novos estados 'árabes' adotaram derivações da bandeira da revolta árabe, que foi criada pelo diplomata britânico Sir Mark Sykes. As quatro cores da bandeira -- preto, branco, verde e vermelho -- representavam as diferentes dinastias árabes: abássidas, omíadas, fatimidas e hachemitas. Elas permanecem como as cores de metade das bandeiras árabes de hoje. Nem os nomes nem os símbolos dos novos estados tinham qualquer ligação com os seus habitantes, que sempre estabeleceram lealdades em relação a clãs, famílias, tribos, aldeias e seitas religiosas, não a países ou nações, uma importação européia que até hoje não fincou raízes em suas antigas colônias no Oriente Médio e na África. 

Flag of the Arab Revolt, designed by Sir Mark Sykes, flies in Aqaba, Jordan. Photo: Wikimedia
Bandeira da revolta árabe, concebida por Sir Mark Sykes, tremulando em Aqaba, na Jordânia


As fronteiras dos novos Estados não foram determinadas nem pela topografia nem pela demografia. Em 1916, o Acordo Sykes-Picot -- um pacto secreto entre franceses, britânicos e russos -- distribuiu os territórios em zonas regionais de controle. Esse foi o embrião do mapa atual do Oriente Médio. O grande problema é que os europeus tinham pouco interesse em entender o labirinto de identidades do Oriente Médio...

  • Uma grande população curda -- aproximadamente 25 milhões nos dias de hoje -- foi dividida entre quatro estados: Turquia, Irã, Iraque e Síria.
  • Os árabes xiitas foram divididos entre o Iraque, Kuwait, Bahrain e nas províncias orientais da Arábia Saudita.
  • Os alauítas, uma seita xiíta heterodoxa (considerada herege tanto por xiítas quanto por sunitas), residem hoje ao longo das costas libanesas, sírias e turcas.
  • Os drusos foram distribuídos entre Israel, Líbano e Síria.
  • O Líbano, supostamente um reduto cristão, acabou ficando com grandes populações sunitas e xiitas, além de alauítas e drusos.
  • A Palestina, que seria a pátria judaica, acabou dividida em três: Israel, territórios palestinos e Jordânia -- com uma enorme população sunita, além de consideráveis minorias cristãs e drusas, além de circassianos e outros grupos.  
  • Os árabes sunitas, que formavam a maioria da população no Oriente Médio, foram divididos em vários estados. Bolsões de turcomanos, circassianos, assírios, yazidis e caldeus foram isolados por toda parte (os três últimos grupos ficaram, principalmente, no Iraque).

Sykes Picot signatures
As assinaturas dos negociadores François Georges-Picot e Mark Sykes no mapa original, agora sob os cuidados do Arquivo Nacional britânico




Num primeiro momento, pensei em usar "Acordo Sykes-Picot, um desastre europeu no Oriente Médio" como título dessa postagem, mas esse seria um modo simplista, pretensioso e extremamente errado de entender o que se passa na região -- ou como eu costumo chamar: o método John Stewart de comentar política/história/religião.

Enquanto é verdade que o imperialismo europeu tem alguma responsabilidade no enorme derramamento de sangue nos países do Oriente Médio, o fato é que mesmo que estes tivessem sido criados de forma a ter uma população homogênia, com lingua, religião e cultura comuns, o número de mortes dificilmente seria muito menor. A diferença seria um menor número de guerras civis e massacres de minorias indefesas em seus próprios países, mas um número consideravelmente maior de conflitos entre nações. Como explicaram aos franceses os líderes alauítas, a verdadeira raíz dos problemas do Oriente Médio está no "espírito de fanatismo e estreiteza mental, cujas raízes são profundas no coração dos muçulmanos árabes para com todos aqueles que não são muçulmanos". O arcebispo maronita de Beirute seguia a mesma linha de raciocínio e, num depoimento a um órgão da ONU, acusava a "força brutal" do imperialismo islamico, que tentava apagar a história judaica e cristã da região.


Estudo que ajuda a entender a posição dos líderes alauítas sírios e dos maronitas libaneses
Gunnar Heinsohn, um professor da Universidade de Bremen (Alemanha), compilou estatísticas para classificar os grandes conflitos mundiais desde 1950 com base no número de mortes ocorridas. De acordo com esse estudo, desde 1950, 11 milhões de muçulmanos foram mortos em conflitos armados. Desse total, 90% das vítimas foram mortas por outros muçulmanos

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

A guerra dos países árabes contra seus cidadãos judeus



  Casa incendiada na cidade de Aden, no Iêmen, durante os tumultos em 1947, quando 82 judeus foram assassinados. 


Sessenta e cinco anos atrás, os Estados árabes iniciaram uma guerra contra seus indefesos cidadãos judeus. Os árabes foram atrás de sua população judaica antes mesmo de qualquer refugiado árabe ter deixado o território onde hoje está Israel.

Segue abaixo um resumo dos acontecimentos que se seguiram à rejeição árabe da resolução 181 da Assembleia Geral da ONU,  em 29 de novembro de 1947, que dividiu a Palestina em um Estado judeu e um segundo Estado árabe.


A tensão entre árabes e judeus atingiu um novo ápice no outono de 1947, enquanto a ONU debatia a criação do Estado judaico.
Dr. Muhammad Husein Heykal, presidente da delegação egípcia, advertiu que um milhão de judeus que viviam nos países árabes ficariam em perigo graças a partilha.

Uma nova onda de violência se espalhou pelo Oriente Médio após a votação a favor da partilha em 29 de novembro de 1947. Grandes manifestações foram convocadas para os dias 02-05 de dezembro, e um massacre no bairro judaico do Cairo só foi evitado por causa da ação da polícia.

No Bahrein, no dia 5 de dezembro, multidões saquearam casas e lojas judaicas e destruíram sinagogas. Duas senhoras idosas foram mortas.

Em Alepo, na Síria, a comunidade judaica foi destruída por uma multidão liderada pela Irmandade Muçulmana. Pelo menos 150 casas, 50 lojas, todas as 18 sinagogas, cinco escolas, um orfanato e um clube de jovens foram destruídos. Muitas pessoas foram mortas, mas o número exato não é conhecido. Mais da metade dos 10.000 judeus da cidade fugiram para a Turquia, Líbano e Palestina.

File:Allepo1947.jpg
Ruínas da sinagoga centra de Aleppo depois do pogrom de 1947


Em Aden [Iêmen], a polícia não conseguiu conter os distúrbios. Até a ordem ser restaurada, no dia 4 de dezembro, 82 judeus foram mortos; das 170 lojas judaicas, 106 foram destruídas. Duas escolas e uma sinagoga foram queimadas.


Judeus iemenitas em um acampamento em Aden esperando a chande de ir para Israel (1948 - 49). 

No Marrocos os franceses ainda mantinham um forte controle sobre a população. No entanto, 6 meses depois, tumultos causaram a morte de 48 judeus.


Resultado do pogrom de Fez, Marrocos

O jornal 'Palestine Post' publicou um editorial intitulado "reféns relutantes" em 11 de dezembro de 1947. Ele citava um editorial do jornal britânico 'The Guardian' do dia anterior, intitulado "Reféns". Eles deploravam declarações inflamatórias feitas por líderes árabes que poderiam ser interpretadas como ameaças contra as minorias judaicas de seus países. Tanto na Síria quanto no Iraque "pressão foi colocada sobre os judeus para denunciar o sionismo e apoiar a causa árabe. Nem sequer podemos imaginar que tipo de ameaças [contra os judeus] foram feitas para que isso acontecesse."

File:Farhud mass grave.jpg
Vala comum onde estão enterradas as vítimas do Farhud (massacre de judeus iraquianos)


Os motins da semana anterior foram atribuídos a "fúria do povo" pelos governos árabes. O editorial denunciava que "os governos olhavam para os criminosos com um olhar benevolente."

O governo libanês emitiu ordens de expulsão contra os judeus palestinos que estavam no Líbano. O 'Palestine Post' de 22 de dezembro de 1947 trazia um relatório sobre as duras medidas que a Liga Árabe estava considerando tomar contra seus cidadãos de origem judaica. Primeiro eles perderiam sua nacionalidade, seus bens seriam confiscados, suas contas bancárias congeladas e eles seriam tratados como inimigos estrangeiros.

"Embora não haja notícias sobre a aceitação desta resolução pela Liga Árabe, é significativo e trágico que tal documento tenha sido redigido", o editorial lamentou. "É fácil para eles jogar com a vida, aterrorizar e manter um espada sobre as cabeças das muitas centenas de milhares de judeus que estão à sua mercê."

Embora não tenha sido aprovada, vários aspectos da resolução da Liga árabe foram adotadas por seus governos. Defensores dos direitos humanos e o ex-ministro da Justiça canadense, Irwin Cotler, classificaram as medidas como dignas de 'Nuremberg'.

No momento em que Israel foi estabelecido, em 15 de maio de 1948, as comunidades judaicas nos países árabes já haviam sido profundamente abaladas. Como disse Norman Stillman, a partilha foi um fator importante, mas não foi o único -- ele foi mais um catalisador. O nascente nacionalismo árabe islâmico não conseguia encontrar espaço para grupos étnicos e religiosos que se desviavam da norma, e os judeus encontraram-se alienados e isolados da sociedade em geral.


Judeus dos países árabes

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Os refugiados esquecidos: 900 mil judeus de países árabes

Quase não se ouve falar deles. Eles não ocupam muito espaço nas manchetes de jornais e nem nos fóruns de debates sobre direitos de minorias perseguidas ao longo da história. 



Sha'ar ha'aliya, campo de refugiados em Israel para judeus vindos de países árabes 


Dos cerca de 850 mil judeus que viviam no mundo árabe, restam atualmente apenas cerca de oito mil. Do total de refugiados, dois terços foram para Israel e seus descendentes formam mais de 50% da população judaica do país. O restante buscou abrigo nos Estados Unidos, Canadá, México, França e América do Sul.

Atualmente, as maiores comunidades judaicas em países de maioria muçulmana estão no Marrocos e na Síria. Enquanto a primeira está diminuindo gradativamente, a segunda permanece estável em função da política adotada pelo governo de Damasco, que não permite a emigração dos judeus. Para visitar parentes no exterior, os membros da comunidade devem oferecer garantias financeiras e deixar familiares próximos como reféns, como prova de que retornarão ao país.

 O tema dos refugiados judeus obrigados a abandonar seus países de origem está na pauta de discussão do mundo judaico nas últimas quatro décadas. Em 1975 foi criada a Organização Mundial dos Judeus dos Países Árabes (World Organization of Jews from Arab World - Wojac). Desde então, o seu objetivo vem sendo o reconhecimento dos seus direitos e a busca de uma solução justa para esta população. A Wojac é, em essência, a contra-partida ao reconhecimento mundial do chamado status dos refugiados palestinos. Em 1967, uma resolução das Nações Unidas determinou o reconhecimento dos direitos legais de todas as populações deslocadas. A batalha das entidades judaicas neste sentido, no entanto, tem sido dura - das 681 resoluções aprovadas pelas Nações Unidas em relação ao Oriente Médico, 101 referem-se aos direitos palestinos e nenhuma faz sequer menção aos refugiados judeus. Para Stanley Urman, diretor executivo da entidade Justiça para Judeus dos Países Árabes (Justice for Jews from Arab Coutries -JJAC), a ONU deve deixar bem claro que quando se fala em refugiados deve-se reconhecer que no Oriente Médio há duas populações, que ambos os assuntos devem ser abordados da mesma maneira".

O destino dos judeus dos países árabes ganhou destaque também através de dois filmes de Carole Basri, uma professora da Faculdade de Direito da Universidade da Pensilvânia. Bisneta do rabino-chefe de Bagdá, além das películas The Life of Frank Iny e Searching for Bagdhad, ela publicou um artigo na Fordham International Law Journal sobre a história dos judeus no mundo árabe. Basri costuma afirmar: "Minha família estava no Oriente Médio há aproximadamente três mil anos. Quantas pessoas são capazes de traçar suas origens em um passado tão distante?" A professora da Universidade da Pensilvânia é apenas mais uma entre os milhares de descendentes dos refugiados judeus de países muçulmanos que ainda buscam o reconhecimento de seus direitos. Segundo dados do Wojac, as perdas materiais dos judeus nas décadas de 1940 e 1950 nessa região chegam a mais de US$ 10 bilhões. A JJAC também fez um estudo semelhante, envolvendo cerca de dez países, e obteve números aproximados.

As lembranças daqueles que foram obrigados a deixar seus lares estão recheadas de sensações como medo, insegurança e incertezas. Se antes de 1948 a vida já não era muito fácil, a situação tornou-se ainda mais complicada após este ano, piorando sensivelmente após a descoberta do fato de que seus vizinhos e, muitas vezes até aqueles considerados próximos, desejavam a sua morte.
Joseph Abdel-Wahed, por exemplo, que vivia no Cairo, Egito, não consegue esquecer o dia em que o seu melhor amigo de escola lhe disse com um sorriso no rosto: "Um dia nós cortaremos a garganta de todos os judeus".
Abdel-Wahed vive há mais de 40 anos em São Francisco. Sobre os anos passados no Egito, ele conta: "Se você faz parte de uma minoria que vive em um país muçulmano e deseja sobreviver, deve ser sempre subserviente. E mesmo assim, jamais deixará de ser considerado um cidadão de segunda classe. No Egito, mesmo que enfrentando dificuldades, podíamos nos considerar afortunados, pois a situação era muito mais delicada no Iêmen, na Síria, na Líbia e no Iraque". Segundo ele, foi somente a partir de 1945, quando o Egito se uniu aos demais países árabes na perseguição aos judeus, que os problemas começaram de fato. A população judaica perdeu a cidadania, muitos de seus membros foram presos ou demitidos de seus empregos. A joalheria de sua família, por exemplo, foi confiscada em 1952 e havia até uma recompensa para quem prendesse o seu pai. Diante destas circunstâncias, a família fugiu para a França.

Nascida na Líbia, Gina Malaka Waldman relembra com terror a fuga de sua família do país, quando o motorista do ônibus que os levava ao aeroporto tentou incendiar o veículo deixando-os presos. "Ele pretendia nos queimar vivos". Ela falou deste triste episódio de sua vida durante uma palestra na Universidade Brandeis, em Boston, para uma platéia de estudantes. Compartilhando lembranças de sua infância, Gina falou também sobre seus jamais esquecidos vizinhos judeus, que foram levados e assassinados por milícias quando acreditavam estar sendo encaminhados para campos de refugiados. A comunidade contava então com 33 mil membros. Não há mais nenhum. Ela é atualmente presidente da Jimena, uma das inúmeras organizações que reúne os judeus oriundos do mundo árabe. À medida que o tema ganha espaço, surgem novos projetos que têm como objetivo garantir não apenas o reconhecimento dos direitos desses refugiados, mas também obter indenizações.

O Ministério de Justiça de Israel, por exemplo, está organizando um banco de dados em parceria com outras entidades. Inicialmente estão sendo recolhidas informações sobre aqueles que foram para Israel e, no futuro, incluirá os que se abrigaram em outros países. A Federação Mundial Sefaradita (World Sephardic Federation), por exemplo, já entrou com uma ação contra a Liga Árabe pedindo indenização por perda de propriedades. O Congresso Mundial Judaico, por sua vez, deu início a um trabalho de recolhimento de depoimentos de refugiados.A JJCA foi fundada em 2002 e atua sob os auspícios da Conferência dos Presidentes das Principais Organizações Judaicas Americanas, do Comitê Judaico Americano, do Congresso Judaico Americano, da Liga Anti-Difamação (Anti-Defamation League), da Federação Sefaradita Americana e da Wojac, além das Comunidades Judaicas Americanas Unificadas e da Organização Hadassah. Ainda que vivendo e perfeitamente adaptados em vários países, os refugiados lembram com carinho de sua terra natal. Reading Dallal, que viu seu tio ser enforcado em Bagdá, afirma que, apesar de tudo, gostaria de levar sua família para conhecer os lugares nos quais passou a sua infância. Radicado nos EUA, diz: "Eu sou capaz de traçar as raízes da minha família até oito gerações que me antecederam e, cada vez que sou chamado à Torá, procuro ter certeza de que pronunciei todos os oito nomes. É a maneira que encontrei para lembrar a mim mesmo, a meus filhos e netos a longa tradição à qual pertencem".

 Segundo os estudos, cerca de 90% dos judeus do mundo viveram até a Idade Média no que é atualmente chamado de "terras árabes", tendo chegado à Europa a partir dos séculos XIV e XV. Para Yitzhak Santis, diretor de Assuntos para o Oriente Médio do Conselho de Relações da Comunidade Judaica em São Francisco, não se pode esquecer que não apenas a rainha Esther e Maimônides são judeus de origem oriental, mas o Talmud ainda usado na atualidade foi escrito na Babilônia. Assim, esquecidos durante décadas, os judeus refugiados dos países árabes começam a tornar-se um assunto cada vez mais debatido com tendência a ser incluído na discussão geral sobre a paz no Oriente Médio.

População judaica nos países árabes: 1948 a 2001
País ou territóriopopulação
judaica (1948)
 % de judeus sobre a população total (1948)Emigrados a IsraelPopulação judaica
estimada (2001)19
Aden8.000Véase Yemen~0
Argélia140.0001,6%24.000~0
Bahrein6000,5%N/A36
Egito80.0000,4%37.000~100
Iraque140.0002.6%130.000~200
Líbano20.0000,4-1,5%4.000< 100
Libia38,0003,6%35.8000
Marrocos 265,000202,8%266.300245.230
Síria30,0000.4-0.9%8.500~100
Túnis50.000 - 105,0001,4-3,0%52.000~1.000
Iêmen55,0001,0%50.600 (Iêmen e Aden somados)~200
Total 881.000608.200<6 .500="" b="">
População judaica no países muçulmanos não árabes: 1948 a 2001
País ou territórioPopulação judaica
(1948)
População judaica
estimada (2001)
Afeganistão5.0001
Irã140.000–150.00011.000-40.000
Paquistão2,000N/A
Turquia80,00018,000-27,000
A presença judaica no Oriente Médio, Norte da África e na região do Golfo Pérsico precede em milhares de anos o nascimento dos modernos estados árabes e da religião islamica.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Philip Hitti e o tratamento dispensado a cristãos sob domínio muçulmano


Philip Khuri Hitti (1886 - 1978), um cristão maronita nascido no Líbano,  foi um estudioso do Islã e  o responsável pela introdução do campo de estudos da cultura árabe nos Estados Unidos. Apesar de sua óbvia simpatia para com o pan-arabismo (algo não muito comum entre libaneses maronitas) e de seu anti-sionismo, ele oferece informações valiosas sobre a invasão árabe do Levante e a relação entre os conquistadores muçulmanos e outros grupos religiosos sob seu controle. 


Do seu livro A História da Síria (1956):
**Palestina e Jordânia eram províncias da Síria  [1]   [2]



A terceira classe consistia de membros de seitas toleradas que professavam religiões reveladas - cristãos, judeus e sabeus (sabianos)...  Na Arábia, no entanto, nenhum não-muçulmano era tolerado, exceto uma pequena comunidade judaica no Iêmen.

Este reconhecimento de seitas toleradas era condicionado ao desarmamento de seus devotos e a exigência de um pagamento de tributo (Jizya) por parte deles em troca de proteção muçulmana

Na Síria, os cristãos e os judeus eram geralmente bem tratados até o reinado de Umar II, o primeiro califa a impor restrições humilhantes sobre eles. Ele emitiu normas excluindo os cristãos de cargos públicos, proibindo que usassem turbantes e obrigando-os a cortar suas franjas, a vestir roupas diferentes e com cintas de couro, a montar [em animais] sem sela, a não construir locais de culto e a orar em voz voz baixa.

A pena para o assassinato de um cristão [pelas mãos] de um muçulmano, ele decretou, era apenas uma multa, e o testemunho de um cristão contra um muçulmano não era aceitável em um tribunal. Pode-se supor que esta legislação foi promulgada em resposta a demanda popular.


segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Said Akl, o poeta nacional do Líbano



Said Akl (em árabe: سعيد عقل) é considerado um dos mais importantes poetas modernos libaneses. Ele também é um grande defensor da identidade, do nacionalismo e do idioma libanês. Seus escritos incluem poesia e prosa, tanto em dialeto libanês quanto em língua árabe clássica. 

Akl nasceu em uma família cristã maronita na cidade de Zahlé, no Líbano. Após a perda de seu pai aos 15 anos de idade, ele teve que abandonar a escola e, posteriormente, trabalhou como professor e depois como jornalista. Depois estudou teologia, literatura e história islâmica, tornando-se um professor universitário e lecionando em diversas universidades libanesas e institutos de política.

Sua admiração pela história e pela cultura do Líbano fez com que ele nutrisse uma forte inimizade para com a língua e a cultura árabe. Este sentimento foi eternizado em uma de suas frases mais famosas: 

eu cortaria a minha mão direita só para não ser um árabe

Em 1968, depois de criar um "alfabeto libanês" de origem latina, composto de 37 letras, ele afirmou que o árabe literário desapareceria do Líbano.

Para Akl, o Líbano dos fenícios foi o berço da cultura e o herdeiro da civilização oriental, bem antes da chegada dos árabes no país. 

No video abaixo Akl exalta a invasão isralense do Líbano, ataca os palestinos e afirma que todos os libaneses deveriam sair às ruas para ajudar o exército de Israel a "limpar" o Líbano dos árabes-palestinos.



[Tradução]

Não há um segundo passo, há apenas um [passo] para o herói Beguin (então primeiro-ministro de Israel): limpar o Líbano dos palestinos. Isso é o que o Líbano quer.
Se isso não acontecesse eu me sentiria tremendamente infeliz, assim como o resto da população libanesa.

Assim que o exército israelense entrasse no Líbano, todo o Líbano deveria ter se levantado e lutado ao seu lado. Se eu tivesse um batalhão militar, eu iria agora mesmo lutar ao lado do exército israelense.
Hoje no meu jornal, eu agradeci ao exército israelense num editorial chamado "Israel está aqui". Eu escrevi: "estou feliz por dois motivos: porque o exército está salvando a nós e ao mundo e [porque] está mostrando a cabeça da serpente ao mundo -- que se chama terrorismo" -- e eu vou falar sobre isso depois. 
Mas eu também estou triste porque não somos nós que estamos salvando o Líbano com os Israelenses, salvando dessa imundice palestina racista e sanguinária, que lidera o terrorismo no mundo.

Pergunta: E por que você não tomou parte na operação?

Eu acredito que existam alguns políticos corruptos no Líbano, e a maioría deles está no governo. Eles não permitíram que os libaneses tomassem partido.
O povo libanês travou uma boa guerra contra os palestinos, mas [Yasser] Arafat enganou e extorquiu os países produtores de petróleo e agora tem mais de 70 bilhoes de dólares. Nesses últimos dois dias ele comprou líderes na Europa e nos Estados Unidos para agir contra você, para dizer que este exército [de Israel] que está salvando o Líbano é um invasor -- mas qualquer um que diga isso deveria ser decapitado!
Em nome do Líbano, eu te digo que esse é o único exército da salvação. 

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Fronteira Israel x Líbano - o sionismo dos cristãos maronitas


Ao invocar o nome ‘Líbano’ nos dias de hoje, nos vêm a mente imagens de jihadistas fanáticos e enlouquecidos, mas nem sempre foi esse o caso. De fato, houve uma época em que existiu uma forte tendência pró-sionismo dentro da Igreja Maronita do Líbano (a maior e mais poderosa comunidade religiosa de então). O movimento foi liderado pelo patriarca maronita Pierre Antoine Arrida e pelo arcebispo Ignace Mubarak de Beirute. A união era natural, já que ambos os grupos eram minorias religiosas numa região hostil dominada por muçulmanos.

Tudo começou quando a Igreja se aproximou da agência judaica e um pacto foi formado (que deveria ser mantido sob sigilo, para não despertar a ira dos muçulmanos).
A postura da Igreja não refletia um consenso de opiniões entre a população cristã – o partido Falange, fundado por Pierre Gemayel, não apoiou a criação do Estado de Israel principalmente por causa de preocupações econômicas. O partido também não apoiava os isolacionistas da Igreja que queriam criar um Estado cristão independente no Monte Líbano e em seus arredores.

PRIMEIROS ENCONTROS
O primeiro encontro entre os colonos judeus e libaneses foi sob circunstâncias infelizes. Durante a guerra maronita-drusa de 1860 – que teve os drusos com vitoriosos e os maronitas como vítimas de grandes massacres – os libaneses, em desespero, se voltaram para a Europa em busca de ajuda. As duas primeiras personalidades europeias a responder foram Sir Moses Montefiore, um abastado líder judeu londrino, e Adolph Cremieux, um ilustre estadista francês também de origem judaica. Montefiore garantiu que a situação dos maronitas receberia cobertura de destaque no periódico ‘Times’ de Londres e criou um fundo, com seus próprios recursos, para ajudar os sobreviventes. Já Cremiuex teve papel fundamental no envio das tropas francesas para o Líbano. A intervenção francesa acabou por salvar os cristãos e levou a criação de um terrotório controlado por maronitas chamado Mutasarifiya.

ASSISTÊNCIA JUDAICA AOS CRISTÃOS DURANTE A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL
Mais tarde, na sequência da Primeira Guerra Mundial, as hostilidades entre muçulmanos shiitas e cristãos maronitas chegaram a seu ápice. A maioria dos habitantes das aldeias cristãs atingidas (entre eles Deir Mimus, Majaryoun, Jedida e Abel al-Kumh) fugiu, e muitos terminaram na cidade de Sidon, famintos e miseráveis.
Pinchas Na'ama, que trabalhou para a Agência Judaica nas comunidades judaicas do Levante, enviou uma mensagem urgente a seus superiores em Jerusalém solicitando fundos emergenciais para assistir os refugiados cristãos. Os refugiados foram alimentados e vestidos e seus filhos foram admitidos na escola judaica em Sidon.

Esses atos filantrópicos foram lembrados anos mais tarde pela Igreja Maronita e acabaram por causar um grande impacto em suas opiniões e atitudes para com a comunidade judaica e o Estado de Israel.


Palavras do patriarca Arrida em um discurso na sinagoga de Beirute, em 1937:

"Os judeus não são apenas os nossos antepassados, mas nossos irmãos. Nossa origem é a mesma, a nossa língua é quase comum e nosso pai é o pai deles. Estamos orgulhosos de pertencer à mesma raça. Devemos tudo ao judaísmo, os nossos ensinamentos são tirados de sua lei sagrada. Nossa fé é semelhante. Nós amamos o mesmo Deus e amamos Jerusalém tanto quanto eles. Nós queremos, sinceramente, que nossa relação com eles seja constante e que renda muitos frutos. Nos ajudamos uns aos outros e desejamos, com todo nosso coração, que Deus liberte os judeus das opressões e perseguições de que são vítimas. Nós manifestamos nossos mais sinceros votos de paz e tranquilidade aos judeus, porque sentimos o quão sincero e precioso é o seu amor por nós."


Arrida também esteve envolvido em esforços de salvamento dos judeus alemães após a ascensão de Hitler ao poder naquele país. Ele e outros líderes cristãos libaneses sugeriram a idéia de permitir a entrada desses judeus no Líbano.

Dez anos mais tarde, quando a demanda por um Estado judeu foi ganhando força, a ONU criou uma comissão especial para examinar a viabilidade de estabelecer esse estado. Segue abaixo o depoimento do arcebispo Mubarak em frente da comissão UNSCOP:

Beirute, 5 de agosto de 1947

Senhor:

Lamento que a minha ausência na Europa coincidiu com a visita da Comissão Especial sobre a Palestina, caso contrário eu teria tido a oportunidade de expressar minha opinião - que é, aliás, a da maioria do povo libanês - com relação a esta questão.

Esta não é a primeira vez que expresso minha opinião sobre esta matéria. Muita tinta já foi gasta e, depois de cada uma das minhas denúncias, a imprensa mundial tem aproveitado as minhas palavras e feito diversos comentários sobre tudo o que disse.

Aqui no Oriente Médio – que é em sua maioria muçulmano – se o atual governo libanês for reconhecido como tendo um direito oficial para falar em nome da nação libanesa, nos sentimos obrigados a responder e a provar que os atuais governantes representam apenas a si mesmos e que as suas chamadas “declarações oficiais” são ditadas apenas pelas necessidades do momento e por uma solidariedade imposta neste país eminentemente cristão, graças as suas ligações com os países islâmicos que o cercam por todos os lados e o mantém em sua órbita político-econômica.

Em razão de sua posição geográfica, história, cultura e tradições, da natureza de seus habitantes e de seu apego a sua fé e a seus ideais, o Líbano tem sempre, mesmo sob o jugo otomano, se mantido longe das garras das outras nações que o rodeiam e tem conseguido manter sua tradição intacta.

Por outro lado, a Palestina, o centro ideológico de toda a Bíblia, sempre foi a vítima de todas as dificuldades e perseguições. Desde tempos imemoriais, qualquer coisa com qualquer significado histórico sempre foi saqueada, pilhada e mutilada. Sinagogas e igrejas foram transformadas em mesquitas e, não sem razão, a importância dessa parte ao leste do Mediterrâneo foi reduzida a nada.

É um fato incontestável que a Palestina foi a casa dos judeus e dos primeiros cristãos. Nenhum deles era de origem árabe. Pela força brutal da conquista eles foram forçados a se converter à religião muçulmana, e é essa origem dos ‘árabes’ naquele país. Pode-se deduzir daí que a Palestina algum dia foi árabe?

Vestígios históricos, monumentos e lembranças sagradas das duas religiões permanecem vivos como evidência do fato de que este país não estava envolvido na guerra entre príncipes e monarcas do Iraque e da Arábia. Os Lugares Santos, os templos, o Muro das Lamentações, as igrejas e os túmulos dos profetas e santos, enfim, todas as relíquias das duas religiões, são símbolos vivos que, por si só, invalidam as declarações agora feitas por aqueles que têm interesse em fazer da Palestina um país árabe. Incluir a Palestina e o Líbano no grupo de países árabes é negar a história e destruir o equilíbrio social no Oriente Médio.

Estes dois países, essas duas pátrias, provaram até agora que suas exitências como entidades separadas e independentes são úteis e necessárias.

O Líbano, antes de tudo, sempre foi e continuará sendo um santuário para todos os cristãos perseguidos no Oriente Médio. Foi lá que os armênios que escaparam do extermínio na Turquia encontraram refúgio. Foi lá que os caldeus do Iraque encontraram um lugar seguro quando foram expulsos de seu país. Foi lá que os poloneses, numa Europa em chamas, se refugiaram. E foi lá que os franceses, forçados a fugir da Síria, encontraram proteção. Foi lá que as famílias britânicas da Palestina, fugindo do terrorismo, encontraram refúgio e proteção.

O Líbano e a Palestina devem continuar a ser o lar permanente das minorias.

E qual foi o papel dos judeus na Palestina? Considerando sob esse ângulo, a
Palestina de 1918 parece-nos um país árido, pobre, despojado de todos os recursos e o menos desenvolvido de todos os vilarejos turcos. A colônia muçulmano-árabe vivia no limite da pobreza. A imigração judaica começou, as colônias foram formadas e estabelecidas e, em menos de vinte anos, o país foi transformado: a agricultura floresceu, grandes indústrias foram estabelecidas e a riqueza veio para o país.
A presença de uma nação tão bem desenvolvida e laboriosa ao lado do
Líbano não poderia deixar de contribuir para o bem-estar de todos – o judeu, que é um homem de habilidade executiva prática, e o libanês, que é altamente adaptável e, por essa
razão, sua proximidade viria para melhorar as condições de vida dos habitantes.

Do ponto de vista cultural, estes dois países podem se gabar de ter tantos intelectuais e pessoas cultas quanto todos os outros países do Oriente Médio somados. Não é justo que a lei deva ser imposta por uma maioria ignorante desejosa de impor sua vontade.

Não seria justo permitir que um milhão de seres-humanos evoluídos e educados sejam joguete de poucas pessoas que, eventualmente estejam no comando e que liderem alguns milhões de ignorantes involuídos que ditam a lei como bem entendem.
Existe uma ordem no mundo, uma ordem que estabelece o equilíbrio adequado. Se as Nações Unidas estão realmente desejosas de manter essa ordem, elas devem fazer todo o possível para consolidá-la.

As principais razões de natureza social, humanitária e religiosa exigem a criação, nesses dois países, de duas pátrias para as minorias: um lar cristão no Líbano, como sempre houve, e um lar judaico na Palestina. Estes dois centros, ligados um com o outro geograficamente e se apoiando e ajudando economicamente, farão a ponte necessária entre o Ocidente e o Oriente, a partir do ponto de vista da cultura e civilização. As relações de vizinhança entre estas duas nações contribuirão para a manutenção da paz no Oriente Médio, que é tão dividido por rivalidades, e vai diminuir a perseguição de minorias, que sempre encontrarão refúgio nestes dois países.

Essa é a opinião dos libaneses que eu represento e é a opinião deste povo a quem a sua Comissão de Inquérito foi incapaz de ouvir.

Por trás das portas fechadas do Hotel Sofar vocês só foram capazes de ouvir as palavras ditadas aos nossos chamados ‘representantes legais’ pelos donos e senhores dos países árabes vizinhos. A voz real dos libaneses foi sufocada pelo grupo que falsificou as eleições de 25 de Maio.

O Líbano exige a liberdade para os judeus na Palestina – da mesma forma que deseja a sua própria liberdade e independência.

Tenho a honra de ser, etc,

(assinado) Ignace Mobarat (Mubarak)

Arcebispo maronita
de Beirute.


Carta traduzida para o inglês
Original em francês