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sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

A "nação árabe"

Flag of the Arab Revolt, designed by Sir Mark Sykes, flies in Aqaba, Jordan. Photo: Wikimedia
 Bandeira da revolta árabe, que foi criada pelo diplomata britânico Sir Mark Sykes. As quatro cores da bandeira representavam as diferentes dinastias árabes: abássidasomíadas, fatimidas e hachemitas. Ela serviu de base para todas as bandeiras dos recém-criados estados "árabes"



Desde a formação do atual Oriente Médio, criado na sequência da Primeira Guerra Mundial, a vida política da região tem sido atormentada pela doutrina do "nacionalismo árabe", que postula a existência de "uma única nação [árabe] vinculada por laços comuns de língua, religião e história... por trás da fachada de uma multiplicidade de Estados soberanos".

A extensão territorial desta suposta nação varia de acordo com os diferentes expoentes da ideologia. Os mais "modestos" reivindicam o território que engloba a Península Arábica, o Levante e o Delta do Nilo, enquanto outros, ainda não satisfeitos, complementam o "mundo árabe" com todo o norte da Africa, Sudão e partes do Irã e da Turquia. 


Um detalhe importante é que a suposta unidade das populações de língua árabe que habitam esses vastos territórios nunca é questionada. Nas palavras do acadêmico árabe-palestino Walid Khalidi, que não sente a mínima vergonha de assumir que a realidade e os fatos não têm o poder de mudar suas noções preconcebidas: "Esta nação é real, e não potencial. O fracasso manifesto de até mesmo nos aproximarmos de uma unidade não nega a realidade empírica da nação árabe. Ele simplesmente adiciona dimensões normativas e prescritivas à ideologia do pan-arabismo. A nação árabe não só é, como deve ser uma". 

Propaganda à parte, o "nacionalismo árabe" não passa de ficção. Ele não representa e nunca representou um movimento nacional genuíno, e não passa de um eufemismo para o mais claro exemplo de imperialismo existente nos dias de hoje. Não há e nunca houve uma "nação árabe" e sua invocação nunca foi nada além de um manobra esperta para angariar apoio popular e simpatia da "opinião pública mundial" para as ambições imperialistas de socialistas árabes e líderes islâmicos órfãos dos califados.

Se uma nação é um grupo de pessoas que partilham ascendência, língua, cultura, tradição e história em comum, então nacionalismo é o desejo de autodeterminação de tal grupo em um território específico que eles consideram ser o seu patrimônio.

Os únicos denominadores comuns entre as diversas populações de língua árabe do Oriente Médio são língua e religião -- ambas impostas a força e conseqüências da época imperial islâmica. E mesmo esses fatores comuns nunca geraram nenhum sentido comum de solidariedade "árabe". Isso sem falar em sentimentos profundamente arraigados de história comum, destino compartilhado ou apego a uma pátria ancestral... Esses sentimentos sequer existem entre os diversos grupos islâmicos, que consideram seus 'irmãos' de outras seitas como infiéis. 

Mesmo sob impérios islâmicos universais, desde os tempos do califado omíada até o otomano, as populações falantes de língua árabe do Oriente Médio nunca se unificaram ou chegaram a se considerar como uma única nação. Muito pelo contrário, os vários reinos e impérios árabes sempre competiram pelo domínio regional ou se desenvolveram paralelamente com outras culturas sob a mesma égide imperial.


Ficheiro:Te lawrence.jpg
Thomas Edward Lawrence, mais conhecido como Lawrence da Arábia


Da mesma forma que outros idiomas imperiais -- como inglês, espanhol e o português -- o árabe foi assimilado pelas diversas populações nativas de suas antigas colonias, que quase nada tinham em comum. Até Lawrence da Arábia, o mais famoso pan-arabista ocidental, admitiu em seus últimos anos que a "unidade árabe é um conceito insano", e continuou sua conclusão fazendo uma comparação: "a unidade dos povos de língua inglesa seria um paralelo justo".

Esta dissonância entre o verdadeiro nacionalismo e o sonho de um império árabe e/ou islâmico embrulhado como uma "nação árabe" unificada criou um legado de violência e perseguições de minorias que tem assombrado o Oriente Médio.


sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Phillip Hitti: novas e mais duras leis anti-judaicas e anti-cristãs durante o reino dos abássidas

território conquistado pelo califado abássida (750 - 1258)



Com a queda dos omíadas (umayyad), a hegemonia Síria no mundo islamico se acabou, assim como os tempos de glória do país.
Os abássidas fizeram do Iraque o seu centro e de Kufah sua capital. A Síria se tornou apenas mais uma das províncias do califado abássida e, no século IX, novas leis anti-judaicas e anti-cristãs foram criadas.


Em 850 e 854, ele [al-Mutawakkil] reviveu a legislação discriminatória contra os membros das seitas toleradas [judeus e cristãos], complementando-a com novidades que faziam dela a mais rigorosa já emitida contra as minorias.  Cristãos e judeus foram ordenados a fixar imagens de demônios de madeira em suas casas, a nivelar seus túmulos com o solo, a usar roupas amarelas e andar somente em mulas e jumentos com selas de madeira marcados por duas bolas parecidas com uma romã na patilha (parte posterior) da cela.
 ...após os decretos de al-Mutawakkil muitas famílias cristãs da Síria emigraram ou aceitaram o Islã. Os convertidos foram motivados, principalmente, pelo desejo de escapar das dificuldades humilhantes e tributos e para adquirir prestígio social e influência política. 
páginas 154 - 155

De acordo com Phillip Hitti, foi durante o califado abássida que todo o "mundo semita" foi arabizado.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Philip Hitti e o tratamento dispensado a cristãos sob domínio muçulmano


Philip Khuri Hitti (1886 - 1978), um cristão maronita nascido no Líbano,  foi um estudioso do Islã e  o responsável pela introdução do campo de estudos da cultura árabe nos Estados Unidos. Apesar de sua óbvia simpatia para com o pan-arabismo (algo não muito comum entre libaneses maronitas) e de seu anti-sionismo, ele oferece informações valiosas sobre a invasão árabe do Levante e a relação entre os conquistadores muçulmanos e outros grupos religiosos sob seu controle. 


Do seu livro A História da Síria (1956):
**Palestina e Jordânia eram províncias da Síria  [1]   [2]



A terceira classe consistia de membros de seitas toleradas que professavam religiões reveladas - cristãos, judeus e sabeus (sabianos)...  Na Arábia, no entanto, nenhum não-muçulmano era tolerado, exceto uma pequena comunidade judaica no Iêmen.

Este reconhecimento de seitas toleradas era condicionado ao desarmamento de seus devotos e a exigência de um pagamento de tributo (Jizya) por parte deles em troca de proteção muçulmana

Na Síria, os cristãos e os judeus eram geralmente bem tratados até o reinado de Umar II, o primeiro califa a impor restrições humilhantes sobre eles. Ele emitiu normas excluindo os cristãos de cargos públicos, proibindo que usassem turbantes e obrigando-os a cortar suas franjas, a vestir roupas diferentes e com cintas de couro, a montar [em animais] sem sela, a não construir locais de culto e a orar em voz voz baixa.

A pena para o assassinato de um cristão [pelas mãos] de um muçulmano, ele decretou, era apenas uma multa, e o testemunho de um cristão contra um muçulmano não era aceitável em um tribunal. Pode-se supor que esta legislação foi promulgada em resposta a demanda popular.


sábado, 16 de novembro de 2013

Carta de avô de Assad aos ocupantes franceses (1936) explica os problemas do Oriente Médio, prevê o massacre de minorias não-muçulmanas e defende sionistas

Segundo estimativas da ONU, o número de mortos na guerra civil síria já ultrapassou a casa dos 100.000 



Muitos caíram no conto da "primavera árabe". No caso da Síria, a propaganda mostra "rebeldes" que lutam contra o ditador Bashar al-Assad em busca de liberdade e democracia. O problema é que os rebeldes nunca quiseram democracia nenhuma... 
Assad e a oposição têm muito em comum. Além dos métodos cruéis e da sede de poder, ambos desprezam a democracia e querem impor ditaduras. Só discordam em um ponto: o tipo de regime que deve controlar o país. Assad quer manter sua ditadura laica e que se apóia nas minorias enquanto os rebeldes querem uma ditadura islâmica baseada na crença da maioria sunita. 

A Síria é uma espécie de síntese ou emblema de todas as questões que têm se mostrado até agora insolúveis no Oriente Médio, a começar por sua própria composição interna. Os Assad pertencem à minoria alauíta — 10% da população —, um ramo do xiismo odiado, igualmente, pela maioria sunita e pelos xiitas. São hoje parte da elite dirigente do país. A chance de que essa e outras minorias — como a cristã, por exemplo — venham a ser esmagadas é grande. 

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A carta abaixo é fascinante. Além de trazer a tona a raiz dos problemas do Oriente Médio, ela se cumpre como uma profecia e explica a razão pela qual a elite alauíta está disposta a lutar até o último homem para se manter no poder. Ela sabe que a única alternativa seria o seu extermínio -- os alauítas entendem a mentalidade de seus irmão muçulmanos e a forma como estes lidam com as minorias sob seu controle. 






Caro Sr. Leon Blum, primeiro-ministro da França

A luz das negociações que estão sendo realizadas entre a França e a Síria, nós - os líderes alauítas na Síria - respeitosamente trazemos os seguintes pontos a sua atenção e a de seu partido (os socialistas):

1. A nação alauíta [sic], que manteve sua independência ao longo dos anos as custas de muito zelo e de muitas mortes, é uma nação que é diferente da nação muçulmana sunita em sua fé religiosa, em seus costumes e em sua história. Nunca antes a nação alauíta (que vive nas montanhas na costa ocidental da Síria) esteve sob o domínio dos [muçulmanos] que governam as cidades do interior da terra.

2. A nação alauíta se recusa a ser anexada a Síria muçulmana, porque a religião islâmica é considerada a religião oficial do país e a nação alauíta é considerada como herética pela religião islâmica. Portanto, pedimos que você considere o destino assustador e terrível que aguarda os alauítas caso eles sejam forçosamente anexados a Síria quando esta estiver livre da supervisão do mandato, quando estará em seu poder implementar as leis que derivam de sua religião. (De acordo com o Islã, os heréticos têm como escolha a conversão ao Islã ou a morte)

3. Conceder independência a Síria e cancelar o mandato seria um bom exemplo dos princípios socialistas na Síria, mas o significado da independência total será o controle, por algumas famílias muçulmanas, da nação alauíta na Cilícia, em Askadron [a Faixa de Alexandretta, que os franceses tiraram da Síria e anexaram à Turquia em 1939] e nas montanhas Ansariyya [as montanhas no oeste da Síria, a continuação das montanhas do Líbano]. Mesmo havendo um parlamento e um governo constitucional, não haverá garantias de liberdade pessoal. Este controle parlamentar será apenas uma fachada, sem qualquer valor eficaz, e a verdade é que ele vai ser controlado pelo fanatismo religioso que terá como alvo as minorias. Será que os líderes da França querem que os muçulmanos controlem a nação alauíta e que joguem-na no seio da miséria?

4. O espírito de fanatismo e estreiteza mental, cujas raízes são profundas no coração dos muçulmanos árabes para com todos aqueles que não são muçulmanos, é o espírito que alimenta continuamente a religião islâmica e, portanto, não há esperança de que a situação vá se alterar. Se o mandato for cancelado, o perigo de morte e destruição será uma ameaça sobre as minorias na Síria, mesmo que cancelamento [do mandato] decrete a liberdade de pensamento e a liberdade de religião. Por isso, ainda hoje, vemos como os moradores muçulmanos de Damasco forçam os judeus que vivem sob seus auspícios a assinar um documento em que são proibidos de enviar alimentos para os seus irmãos judeus que estão sofrendo com o desastre na Palestina [nos dias da grande revolta árabe].
A situação dos judeus na Palestina é a mais forte e explícita evidência da militância islâmica e do tratamento dispensado aqueles que não pertencem ao islã. Esses bons judeus contribuíram para os árabes com civilização e paz, e estabeleceram prosperidade na Palestina sem tomar nada a força e sem prejudicar a ninguém. Ainda assim, os muçulmanos declaram guerra santa contra eles e nunca hesitaram em massacrar suas mulheres e crianças, apesar da presença da Inglaterra na Palestina e da França na Síria.
Portanto, um destino sombrio aguarda os judeus e outras minorias no caso de o mandato britânico ser abolido e da Síria muçulmana e da Palestina muçulmana serem unidas. Este é o objetivo final dos árabes muçulmanos.

5. Agradecemos a sua generosidade de espírito ao defender o povo sírio e seu desejo de conseguir sua independência, mas a Síria, no momento atual, está longe da grande meta que você aspira para ela, porque ela ainda está presa no espírito do feudalismo religioso. Nós não achamos que o governo francês e o Partido Socialista Francês vão concordar com a independência dos sírios, já que a sua implementação causará a subjugação da nação alauíta, colocando a minoria alauíta em perigo de morte e destruição. Não é possível que você concordará com o pedido da Síria (nacionalista) para anexar a nação alauíta à Síria, porque seus elevados princípios - se eles suportam a idéia de liberdade - não vão aceitar a situação em que uma nação (os muçulmanos) tenta sufocar a liberdade de outro (os alauítas), forçando a sua anexação.

6. Você pode achar necessário garantir condições que assegurem os direitos dos alauítas e de outras minorias no texto do Tratado (o Tratado franco-sírio, que define as relações entre os estados), mas nós enfatizamos a você que contratos não têm qualquer valor na mentalidade islâmica da Síria. Vimos isso no passado, com o pacto que a Inglaterra assinou com o Iraque, que proibia [os muçulmanos] iraquianos de assassinarem assírios e yazidis. A nação alauíta, que nós representamos, clama ao governo da França e ao Partido Socialista Francês, e pede-lhes para garantir a sua liberdade e independência dentro de suas pequenas fronteiras [um Estado alauíta independente]. A nação alauíta coloca seu bem-estar nas mãos dos dirigentes socialistas franceses, e é certo que vamos encontrar um apoio forte e confiável para nossa nação, que é um amigo fiel, que tem prestado à França um excelente trabalho, e agora está sob o ameaça de morte e destruição.

[Assinado por]

Aziz Agha al-Hawash, Mahmud Agha Jadid, Mahmud Bek Jadid, Suleiman Assad [avô de Bashar], Suleiman al-Murshid, Mahmud Suleiman al-Ahmad.