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sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Israel, os cristãos e a morte do pan-arabismo

Gabriel Nadaf, o padre da igreja ortodoxa grega na Galiléia que tenta livrar os cristãos de Israel da mentalidade que os acorrenta ao nacionalismo árabe que tanto os oprime.



A chamada "Primavera Árabe" desencadeou forças que estiveram dormentes por um século. Como seus colegas espalhados por toda a região, as minorias arabizadas de Israel estão mudando de forma profunda.

Considere a comunidade cristã.

Gabriel Nadaf, um padre ortodoxo grego de Nazaré, tornou-se o símbolo deste novo período. Nadaf é o líder espiritual de um movimento cristão israelense que defende que a juventude cristã do país deve se alistar no serviço militar. Ele é responsável por um aumento de 300% no alistamento "árabe" cristão nas Forças de Defesa de Israel no ano passado.

E o padre não esconde seu objetivo nem sua motivação. Ele busca a integração total dos 130.000 cristãos de Israel na sociedade israelense, e vê o serviço militar como a chave para que isso ocorra.
Já sua motivação foi testemunhar as terríveis perseguiçoes de cristãos em todo o "mundo árabe" desde o início da onda revolucionária, em dezembro de 2010.


 à luz do que vemos acontecer com os cristãos nos países árabes, a forma como são massacrados e perseguidos diariamente, sendo mortos e estuprados só porque são cristãos... Isso acontece no Estado de Israel? Não, não acontece."
Shahdi Halul, um capitão da reserva no batalhão de pára-quedistas que trabalha com Nadaf, declarou: "Todo cristão no Estado de Israel deve se juntar ao exército e defender o país para que ele exista para sempre. Porque se, Deus me livre, o governo daqui for derrubado, assim como foi em outros lugares, nós seremos os primeiros a sofrer."

Esses homens e seus apoiadores são o resultado natural do desenvolvimento revolucionário mais significativo da chamada Primavera Árabe: o fim do nacionalismo árabe.

Como explicou Ofir Ha'ivry, o vice-presidente do Instituto de Herzl, o nacionalismo árabe nasceu do pan-arabismo -- uma invenção de potências europeias durante a Primeira Guerra Mundial, quando elas procuravam conferir uma nova identidade ao Oriente Médio pós-Otomano.

O núcleo da nova identidade era a língua árabe. As aspirações tribais, religiosas, étnicas e nacionalistas dos povos da região de língua árabe foram sufocadas e substituídas por uma nova identidade pan-árabe.

Para os cristãos do antigo império Otomano, o pan-arabismo foi um bem vindo meio de se livrar das leis islâmicas de Omar, que reduziam os não-muçulmanos que viviam sob o domínio muçulmano ao status de dhimmis impotentes, cuja a única existência possivel era na forma de sobreviventes indefesos sob total controle de seus governantes islâmicos.

Mas agora que o pan-arabismo está em ruínas do norte da África até a Península Arábica os habitantes da região voltaram a se identificar por tribos, religião, etnia, e, no caso dos curdos e bérberes, de acordo com sua identidade nacional não-arabe. Nesta nova era, os cristãos encontram-se em perigo novamente, e com poucos protetores ou aliados dispostos a protege-los.

Como Ha'ivry observa, o desafio estratégico central de Israel foi sempre disputado com o pan-arabismo, que foi inventado ao mesmo tempo em que as nações do mundo abraçaram o sionismo moderno.
Desde a sua criação, os líderes pan-árabes sempre viram Israel como bode expiatório perfeito, o alvo ideal para desviar a atenção de sua incapacidade de cumprir as mirabolantes promessas de poder global do pan-arabismo.

Mas desde 1993, diz Ha'ivri, a estratégia nacional de Israel tem sido baseada em apaziguar os autoritários  líderes pan-árabes seculares, oferecendo terra por paz para a Síria e para a OLP. Ele ainda afirma que Shimon Peres é o padrinho político da estratégia acomodacionista de Israel, que é baseada em uma mistura de um sentimento de impotência por um lado, e de utopia pelo outro.

A sensação de impotência se deve a convicção de que Israel não pode influenciar seu ambiente e que os "árabes" são incapazes de mudar. Que os vizinhos de Israel sempre verão a si mesmos como árabes, e que eles sempre vão querer, mais do que qualquer outra coisa, estados árabes.

E, ao mesmo tempo, os acomodacionistas mantêm a crença utópica de que o apaziguamento israelense do nacionalismo árabe-palestino vai romper o muro de rejeição pan-árabe, acabando com o ódio contra o Estado judeu, e até mesmo levar os árabes a convidar Israel a aderir a Liga árabe...

A "Primavera Árabe" acabou com cada uma das crenças dos acomodacionistas. Do Egito à Tunísia, do Iraque à Síria, todos os vizinhos de Israel estão lutando entre si como sunitas, xiitas e salafistas, ou como membros de clãs e tribos, abandonando qualquer pretensão a uma identidade árabe comum. E o que a tola esquerda israelense -- obcecada por um estado palestino -- ainda não foi capaz de perceber é que muitos dos vizinhos de Israel não compartilham a idéia do Estado Judeu como um bode expiatório, assim como os proponentes do pan-arabismo. Então, subornar os agora irrelevantes nacionalistas árabes com outro Estado árabe pode fazer pouco além de criar mais uma nova vítima das revoluções.

E é porque eles vêem o que está acontecendo com seus correligionários no mundo pós pan-arabismo que mais e mais cristãos israelenses percebem que terão uma vida mais segura e mais próspera como cidadãos cristãos na única democracia do Oriente Médio do que como árabes lutando contra a "entidade sionista".


Ainda assim, a mudança não é tão simples. A maioria dos líderes árabes eleitos em Israel são muçulmanos e devem suas posições a uma tão cega quanto obstinada defesa do pan-arabismo. Esta posição lhes trouxe fama, dinheiro e apoio da OLP, da Europa e, desde 1993, da esquerda israelense.

E por isso, desde que ele apareceu pela primeira vez em cena, a vida do padre Nadaf tem sido constantemente ameaçada. Todos, desde os membros árabes do parlamento israelense até os comunistas infiltrados no Conselho Ortodoxo Grego tem incitado contra ele, acusando-o de trair a "nação árabe palestina".


Nadaf e seus seguidores respondem às acusaçoes com desprezo.
"Quando alguém me diz: 'Somos todos árabes', eu digo a ele: "Não, não somos todos os árabes. Você é um árabe. Eu não.", disse Halul a um canal de TV.

Samer Jozin, cuja filha Jennifer optou pelo serviço militar em vez da faculdade de medicina, concorda.
"Dizer que eu sou um palestino é uma maldição. Eu sou, graças a Deus, um cristão de Israel e sou orgulhoso disso. E agradeço a Deus que eu nasci na Terra de Israel ", disse ele.
A mensagem não poderia ser mais clara: Israel está baseando sua estratégia nacional em um mundo que não existe mais.

Hoje, os curdos -- um dos aliados muçulmanos mais antigos do Estado de Israel -- formaram estados praticamente independentes no Iraque e na Síria. Enquanto isso, cristãos em toda a região estão em fuga; drusos da Síria e do Líbano estão expostos, sem proteção e à procura de ajuda.

Quanto aos muçulmanos, eles estão fragmentados em linhas sectárias e políticas, e em guerra uns com os outros em campos de batalha por toda a região. Por causa disso eles têm tido pouco tempo para se dedicar a culpar Israel por seus fracassos.

O Oriente Médio pós-arabismo expõe a verdade que tem sido obscurecida por 100 anos: Os judeus e seu estado são um componente natural daquela vizinhança tão diversificada, assim como os curdos, os cristãos, os drusos e as várias seitas muçulmanas. O fim do pan-arabismo é uma grande oportunidade para que as minorias da região possam construir as alianças que precisam para sobreviver e prosperar. 

sábado, 21 de dezembro de 2013

Acordo Sykes-Picot, a criação do Oriente Médio como o conhecemos

Um século atrás, as potências européias redesenharam as fronteiras do Levante de acordo com suas próprias necessidades. Essas potências se foram mas o mapa permanece, juntamente com uma ironia: enquanto os europeus encontraram uma maneira melhor para definir suas próprias fronteiras, os estados que eles criaram depois de tomar a região do império otomano continuam a queimar e a se auto-destruir.


Mapa que mostra o território controlado pelo império turco-otomano no ano de 1914


Províncias otomanas se tornaram reinos árabes, enquanto enclaves cristãos e judeus foram criados no Líbano e na Palestina. 
Síria, Líbia e Palestina receberam nomes ressuscitados da antiguidade romana -- a Líbia reapareceu em 1934, quando os italianos juntaram Cirenaica, Tripolitânia e Fezzan. O mandato francês marcou a primeira vez que o nome "Síria" foi usado como o nome de um estado, ao passo que "Palestina" era apenas uma província síria. O Iraque tinha sido uma província medieval do califado, enquanto "Líbano" se referia a uma montanha e "Jordânia" a um rio.

Os novos estados 'árabes' adotaram derivações da bandeira da revolta árabe, que foi criada pelo diplomata britânico Sir Mark Sykes. As quatro cores da bandeira -- preto, branco, verde e vermelho -- representavam as diferentes dinastias árabes: abássidas, omíadas, fatimidas e hachemitas. Elas permanecem como as cores de metade das bandeiras árabes de hoje. Nem os nomes nem os símbolos dos novos estados tinham qualquer ligação com os seus habitantes, que sempre estabeleceram lealdades em relação a clãs, famílias, tribos, aldeias e seitas religiosas, não a países ou nações, uma importação européia que até hoje não fincou raízes em suas antigas colônias no Oriente Médio e na África. 

Flag of the Arab Revolt, designed by Sir Mark Sykes, flies in Aqaba, Jordan. Photo: Wikimedia
Bandeira da revolta árabe, concebida por Sir Mark Sykes, tremulando em Aqaba, na Jordânia


As fronteiras dos novos Estados não foram determinadas nem pela topografia nem pela demografia. Em 1916, o Acordo Sykes-Picot -- um pacto secreto entre franceses, britânicos e russos -- distribuiu os territórios em zonas regionais de controle. Esse foi o embrião do mapa atual do Oriente Médio. O grande problema é que os europeus tinham pouco interesse em entender o labirinto de identidades do Oriente Médio...

  • Uma grande população curda -- aproximadamente 25 milhões nos dias de hoje -- foi dividida entre quatro estados: Turquia, Irã, Iraque e Síria.
  • Os árabes xiitas foram divididos entre o Iraque, Kuwait, Bahrain e nas províncias orientais da Arábia Saudita.
  • Os alauítas, uma seita xiíta heterodoxa (considerada herege tanto por xiítas quanto por sunitas), residem hoje ao longo das costas libanesas, sírias e turcas.
  • Os drusos foram distribuídos entre Israel, Líbano e Síria.
  • O Líbano, supostamente um reduto cristão, acabou ficando com grandes populações sunitas e xiitas, além de alauítas e drusos.
  • A Palestina, que seria a pátria judaica, acabou dividida em três: Israel, territórios palestinos e Jordânia -- com uma enorme população sunita, além de consideráveis minorias cristãs e drusas, além de circassianos e outros grupos.  
  • Os árabes sunitas, que formavam a maioria da população no Oriente Médio, foram divididos em vários estados. Bolsões de turcomanos, circassianos, assírios, yazidis e caldeus foram isolados por toda parte (os três últimos grupos ficaram, principalmente, no Iraque).

Sykes Picot signatures
As assinaturas dos negociadores François Georges-Picot e Mark Sykes no mapa original, agora sob os cuidados do Arquivo Nacional britânico




Num primeiro momento, pensei em usar "Acordo Sykes-Picot, um desastre europeu no Oriente Médio" como título dessa postagem, mas esse seria um modo simplista, pretensioso e extremamente errado de entender o que se passa na região -- ou como eu costumo chamar: o método John Stewart de comentar política/história/religião.

Enquanto é verdade que o imperialismo europeu tem alguma responsabilidade no enorme derramamento de sangue nos países do Oriente Médio, o fato é que mesmo que estes tivessem sido criados de forma a ter uma população homogênia, com lingua, religião e cultura comuns, o número de mortes dificilmente seria muito menor. A diferença seria um menor número de guerras civis e massacres de minorias indefesas em seus próprios países, mas um número consideravelmente maior de conflitos entre nações. Como explicaram aos franceses os líderes alauítas, a verdadeira raíz dos problemas do Oriente Médio está no "espírito de fanatismo e estreiteza mental, cujas raízes são profundas no coração dos muçulmanos árabes para com todos aqueles que não são muçulmanos". O arcebispo maronita de Beirute seguia a mesma linha de raciocínio e, num depoimento a um órgão da ONU, acusava a "força brutal" do imperialismo islamico, que tentava apagar a história judaica e cristã da região.


Estudo que ajuda a entender a posição dos líderes alauítas sírios e dos maronitas libaneses
Gunnar Heinsohn, um professor da Universidade de Bremen (Alemanha), compilou estatísticas para classificar os grandes conflitos mundiais desde 1950 com base no número de mortes ocorridas. De acordo com esse estudo, desde 1950, 11 milhões de muçulmanos foram mortos em conflitos armados. Desse total, 90% das vítimas foram mortas por outros muçulmanos

quinta-feira, 15 de março de 2012

Franji Synagogue, Syria

 
Sinagoga Ilfrange, Damasco, Síria


A sinagoga da foto acima é uma das que o ditador Bashar al-Assad reformou com dinheiro público, numa esperta jogada de marketing, como forma de chamar a atenção mundial para pontos turísticos de seus país e para a tolerância de seu governo e população. Uma pena que a comunidade judaica do país, uma das mais antigas do mundo - com mais de dois milênios -  já tenha sido praticamente extinta, graças a perseguições, massacres...
A bela sinagoga não tem freqüentadores ou serviços religiosos. Serve apenas como lembrança de uma história milenar apagada pelo pan-arabismo e pela tolerância islâmica.  

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Natural de Homs, cidade que virou o centro dos protestos contra o regime sírio, o cristão Shaher Meida explica em bom português por que apoia incondicionalmente o ditador Bashar Assad. “Com ele temos proteção”, diz ele, que morou um ano em Belo Horizonte. “Sem Assad, o risco é a Síria virar um novo Iraque”. O temor de Meida é uma das explicações por trás do apoio que as minorias do país devotam ao regime, ainda que muitos critiquem o Estado policial e anseiem por mais liberdade. Formado por cristãos, muçulmanos, alauítas e drusos, a Síria é um dos poucos países do Oriente Médio em que diferentes grupos religiosos e sectários 'coexistem'.
Mas essa aparente harmonia começou a sofrer rachaduras com os protestos iniciados em março, despertando fantasmas de uma guerra sectária. Esse risco é ressaltado pelo regime. A alternativa a Assad, adverte, é o caos. Real ou exagerado, o perigo colocou as minorias em pânico, sobretudo a cristã, que constitui 10% da população de 23 milhões. O temor é que grupos islâmicos cheguem ao poder e que se repitam as perseguições ocorridas no Egito e no Iraque ou um cenário de guerra civil, como no Líbano.

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Setenta e cinco anos atrás, um grupo de seis notáveis alauítas - grupo religioso do qual fazem parte o ditador Bashar el-Assad e a elite política da Síria - enviou uma carta aos franceses, na época em que eles e os britãnicos dividiam arbitrariamente o Oriente Médio, destruindo comunidades milenares para apaziguar os muçulmanos. Na carta eles explicavam o motivo de se recusarem a fazer parte da Síria muçulmana e dominada por sunitas [que os consideram infiéis]. Como exemplo, eles apontavam o tratamento dispensado aos judeus pelos muçulmanos na Palestina:

A situação dos judeus na Palestina é a mais forte e explícita evidência da militância islâmica em seu tratamento daqueles que não pertencem ao islã. Esses bons judeus contribuíram para os árabes com civilização e paz, e estabeleceram prosperidade na Palestina sem tomar nada a força e sem prejudicar a ninguém, ainda assim, os muçulmanos declaram guerra santa contra eles e nunca hesitaram em massacrar suas mulheres e crianças, apesar da presença da Inglaterra na Palestina e da França na Síria. 
Portanto, um destino sombrio aguarda os judeus e outras minorias no caso de o mandato britânico ser abolido e da Síria muçulmana e da Palestina muçulmana serem unidas... o objetivo final dos árabes muçulmanos.

Entre os signatários estava Suleiman (Sulayman) el-Assad, avô de Bashar el-Assad.


Syria's crackdown
The Lost Cause of Alawite Zionism   
Alawites: Don't do to us what Muslims did to Jews 
How Syria and Lebanon became emptied of Jews