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sábado, 11 de janeiro de 2014

Sharon, a paz, a segunda intifada e a "esplanada das mesquitas"


Ariel Sharon em visita ao Monte do Templo no ano 2000


Em outubro de 2000 tudo indicava que finalmente os líderes de Israel e dos árabes-palestinos chegariam a um acordo de convivência que levaria à coexistência pacífica entre o Estado judeu e um segundo Estado palestino a ser proclamado em Gaza e na Cisjordania. As delegações chefiadas pelo primeiro-ministro de Israel, Ehud Barak, e o presidente da Autoridade Palestina, Yasser Arafat, reunidas em Camp David com a delegação americana, chefiada pelo então presidente Bill Clinton, tinham sobre a mesa a ousada proposta de Barak, concedendo aos palestinos quase todas as suas reivindicações: 95% dos territórios "ocupados" (e negociações para acertos de fronteira e troca de territórios de acordo com a situação demográfica e as questões de segurança), um regime especial para Jerusalém, que permitisse, sem dividir a cidade, que os palestinos lá tivessem sua capital, desocupação da maior parte das colônias judaicas, acordos de cooperação econômica que viabilizariam o novo Estado a ser proclamado e todos os detalhes redundantes dessa postura básica.

Surpreendentemente, no último momento, Arafat recuou, rejeitou a proposta e deu início à intifada, que se alegou ser uma reação de revolta palestina ante uma visita "provocadora" de Ariel Sharon ao monte do Templo -- o local mais sagrado para o judaísmo, onde foi construído o Templo de Salomão (a imprensa brasileira se recusa a noticiar este fato, e se refere ao local simplesmente como "esplanada das mesquitas", repetindo a narrativa islamica e negando qualquer ligação dos judeus com o local). 

Quanto a acusação de que a visita de Sharon foi a responsável pela intifada... isso é algo que até os próprios árabes -- mas não a imprensa ocidental, claro! --  admitem ser uma mentira:


"Quem quer que pense que a intifada começou como resultado da desprezível visita de Sharon à mesquita de al-Aqsa está errado. Essa foi apenas a última gota que acabou com a paciência do povo palestino. 
A intifada já estava planejada desde o retorno do presidente Arafat de Camp David [nos EUA, onde se discutia a paz], onde o Arafat resistiu ao presidente Clinton e rejeitou os termos do acordo no coração da América."


Por que sua recusa? O que Arafat realmente queria? Como ele nunca declarou explicitamente o que quer (nas negociações, os palestinos se limitaram a fazer exigências e recusar propostas), resta especular sobre algumas possibilidades:


a) Arafat não conseguiu reunir coragem ou vontade para vencer as pressões dos grupos palestinos mais radicais, que recusam a paz e a convivência com Israel. Mesmo percebendo a oportunidade, não quis arriscar o que Barak arriscou: enfrentar sua própria gente e convencê-la de que só com concessões mútuas poder-se-ia construir uma solução que fosse o início de um processo de paz verdadeiro.



b) Arafat não quis aceitar uma solução a não ser em seus próprios termos e com a satisfação de 100% de suas exigências. Diante de uma proposta de conciliação irrecusável, as únicas alternativas são aceitá-la ou romper a negociação, exatamente para não ter de aceitá-la. A entrega de praticamente todos os territórios, a partilha de Jerusalém como capital, o estabelecimento de outro Estado palestino, a cooperação econômica, seriam o máximo de concessões exigíveis de Israel já no início do processo de convivência pacífica. 
O medo de um resultado negociado que exigiria compromissos dos palestinos pode ter sido o que levou Arafat a partir para o confronto, na tentativa de obter, sem se comprometer com nada, mais do que estava a seu alcance com uma simples assinatura. A exigência de última hora de Arafat, que ele sabia muito bem não poder jamais ser aceita por Israel, foi a "volta de 3 milhões de refugiados" palestinos, não ao futuro Estado palestino, mas para dentro do Estado de Israel, o que parece induzir a próxima alternativa.

c) Os palestinos nunca quiseram realmente uma paz definitiva com Israel e, na verdade, nunca teriam abandonado seu objetivo estratégico de acabar com Israel como Estado judeu. Para isso, como está definido na Carta Palestina, as negociações e o Estado palestino seriam apenas uma etapa. A possibilidade de um Estado palestino com compromissos de paz e reconhecimento de Israel seria uma ameaça a esse princípio. Fortes indícios dessa possibilidade transparecem da exigência de última hora em Camp David: cerca de 3 milhões de palestinos (supostamente, os descendentes dos 600.000 palestinos que saíram de suas casas e foram para o exílio durante a Guerra de Independência de Israel) deveriam "retornar", não ao Estado palestino, mas ao Estado de Israel. O objetivo, claramente, não era fortalecer o novo Estado a ser criado, mas debilitar o caráter judaico de Israel. Uma população de 4.200.000 palestinos, ante menos de 5 milhões de judeus, poderia levar, em pouco tempo, pela via demográfica, ao "fim do Estado sionista", como consta nos programas e nas estratégias palestinas.
Qualquer que tenha sido o motivo – ou os motivos – de Arafat, ele desencadeou a intifada e a violência quando tinha ao seu alcance a realização de praticamente todos os seus objetivos pelo caminho do acordo e da convivência.


...Quando dizemos que a solução deve ser baseada nessas fronteiras [de 1967], o presidente [Abbas] entende, nós entendemos e todos sabem que o "objetivo maior" não pode ser alcançado de uma vez só. Se Israel se retirar de Jerusalém, retirar 650.000 colonos e desmantelar o muro... o que será de Israel? O país acabará.

Quem está nervoso e irritado agora? Netanyahu, Lieberman, Obama... todos esses vermes.
... Nós deveríamos nos alegrar em ver Israel perturbado.
Se alguém disser que quer "varrer" Israel... é muito difícil. Não é [uma política] aceitável dizer isso. Não diga essas coisas ao mundo, guarde consigo. 
Eu quero as resoluções que todos concordam. Eu digo para o mundo, para o quarteto e para os EUA: vocês prometeram e se transformaram em mentirosos.



sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Israel, os cristãos e a morte do pan-arabismo

Gabriel Nadaf, o padre da igreja ortodoxa grega na Galiléia que tenta livrar os cristãos de Israel da mentalidade que os acorrenta ao nacionalismo árabe que tanto os oprime.



A chamada "Primavera Árabe" desencadeou forças que estiveram dormentes por um século. Como seus colegas espalhados por toda a região, as minorias arabizadas de Israel estão mudando de forma profunda.

Considere a comunidade cristã.

Gabriel Nadaf, um padre ortodoxo grego de Nazaré, tornou-se o símbolo deste novo período. Nadaf é o líder espiritual de um movimento cristão israelense que defende que a juventude cristã do país deve se alistar no serviço militar. Ele é responsável por um aumento de 300% no alistamento "árabe" cristão nas Forças de Defesa de Israel no ano passado.

E o padre não esconde seu objetivo nem sua motivação. Ele busca a integração total dos 130.000 cristãos de Israel na sociedade israelense, e vê o serviço militar como a chave para que isso ocorra.
Já sua motivação foi testemunhar as terríveis perseguiçoes de cristãos em todo o "mundo árabe" desde o início da onda revolucionária, em dezembro de 2010.


 à luz do que vemos acontecer com os cristãos nos países árabes, a forma como são massacrados e perseguidos diariamente, sendo mortos e estuprados só porque são cristãos... Isso acontece no Estado de Israel? Não, não acontece."
Shahdi Halul, um capitão da reserva no batalhão de pára-quedistas que trabalha com Nadaf, declarou: "Todo cristão no Estado de Israel deve se juntar ao exército e defender o país para que ele exista para sempre. Porque se, Deus me livre, o governo daqui for derrubado, assim como foi em outros lugares, nós seremos os primeiros a sofrer."

Esses homens e seus apoiadores são o resultado natural do desenvolvimento revolucionário mais significativo da chamada Primavera Árabe: o fim do nacionalismo árabe.

Como explicou Ofir Ha'ivry, o vice-presidente do Instituto de Herzl, o nacionalismo árabe nasceu do pan-arabismo -- uma invenção de potências europeias durante a Primeira Guerra Mundial, quando elas procuravam conferir uma nova identidade ao Oriente Médio pós-Otomano.

O núcleo da nova identidade era a língua árabe. As aspirações tribais, religiosas, étnicas e nacionalistas dos povos da região de língua árabe foram sufocadas e substituídas por uma nova identidade pan-árabe.

Para os cristãos do antigo império Otomano, o pan-arabismo foi um bem vindo meio de se livrar das leis islâmicas de Omar, que reduziam os não-muçulmanos que viviam sob o domínio muçulmano ao status de dhimmis impotentes, cuja a única existência possivel era na forma de sobreviventes indefesos sob total controle de seus governantes islâmicos.

Mas agora que o pan-arabismo está em ruínas do norte da África até a Península Arábica os habitantes da região voltaram a se identificar por tribos, religião, etnia, e, no caso dos curdos e bérberes, de acordo com sua identidade nacional não-arabe. Nesta nova era, os cristãos encontram-se em perigo novamente, e com poucos protetores ou aliados dispostos a protege-los.

Como Ha'ivry observa, o desafio estratégico central de Israel foi sempre disputado com o pan-arabismo, que foi inventado ao mesmo tempo em que as nações do mundo abraçaram o sionismo moderno.
Desde a sua criação, os líderes pan-árabes sempre viram Israel como bode expiatório perfeito, o alvo ideal para desviar a atenção de sua incapacidade de cumprir as mirabolantes promessas de poder global do pan-arabismo.

Mas desde 1993, diz Ha'ivri, a estratégia nacional de Israel tem sido baseada em apaziguar os autoritários  líderes pan-árabes seculares, oferecendo terra por paz para a Síria e para a OLP. Ele ainda afirma que Shimon Peres é o padrinho político da estratégia acomodacionista de Israel, que é baseada em uma mistura de um sentimento de impotência por um lado, e de utopia pelo outro.

A sensação de impotência se deve a convicção de que Israel não pode influenciar seu ambiente e que os "árabes" são incapazes de mudar. Que os vizinhos de Israel sempre verão a si mesmos como árabes, e que eles sempre vão querer, mais do que qualquer outra coisa, estados árabes.

E, ao mesmo tempo, os acomodacionistas mantêm a crença utópica de que o apaziguamento israelense do nacionalismo árabe-palestino vai romper o muro de rejeição pan-árabe, acabando com o ódio contra o Estado judeu, e até mesmo levar os árabes a convidar Israel a aderir a Liga árabe...

A "Primavera Árabe" acabou com cada uma das crenças dos acomodacionistas. Do Egito à Tunísia, do Iraque à Síria, todos os vizinhos de Israel estão lutando entre si como sunitas, xiitas e salafistas, ou como membros de clãs e tribos, abandonando qualquer pretensão a uma identidade árabe comum. E o que a tola esquerda israelense -- obcecada por um estado palestino -- ainda não foi capaz de perceber é que muitos dos vizinhos de Israel não compartilham a idéia do Estado Judeu como um bode expiatório, assim como os proponentes do pan-arabismo. Então, subornar os agora irrelevantes nacionalistas árabes com outro Estado árabe pode fazer pouco além de criar mais uma nova vítima das revoluções.

E é porque eles vêem o que está acontecendo com seus correligionários no mundo pós pan-arabismo que mais e mais cristãos israelenses percebem que terão uma vida mais segura e mais próspera como cidadãos cristãos na única democracia do Oriente Médio do que como árabes lutando contra a "entidade sionista".


Ainda assim, a mudança não é tão simples. A maioria dos líderes árabes eleitos em Israel são muçulmanos e devem suas posições a uma tão cega quanto obstinada defesa do pan-arabismo. Esta posição lhes trouxe fama, dinheiro e apoio da OLP, da Europa e, desde 1993, da esquerda israelense.

E por isso, desde que ele apareceu pela primeira vez em cena, a vida do padre Nadaf tem sido constantemente ameaçada. Todos, desde os membros árabes do parlamento israelense até os comunistas infiltrados no Conselho Ortodoxo Grego tem incitado contra ele, acusando-o de trair a "nação árabe palestina".


Nadaf e seus seguidores respondem às acusaçoes com desprezo.
"Quando alguém me diz: 'Somos todos árabes', eu digo a ele: "Não, não somos todos os árabes. Você é um árabe. Eu não.", disse Halul a um canal de TV.

Samer Jozin, cuja filha Jennifer optou pelo serviço militar em vez da faculdade de medicina, concorda.
"Dizer que eu sou um palestino é uma maldição. Eu sou, graças a Deus, um cristão de Israel e sou orgulhoso disso. E agradeço a Deus que eu nasci na Terra de Israel ", disse ele.
A mensagem não poderia ser mais clara: Israel está baseando sua estratégia nacional em um mundo que não existe mais.

Hoje, os curdos -- um dos aliados muçulmanos mais antigos do Estado de Israel -- formaram estados praticamente independentes no Iraque e na Síria. Enquanto isso, cristãos em toda a região estão em fuga; drusos da Síria e do Líbano estão expostos, sem proteção e à procura de ajuda.

Quanto aos muçulmanos, eles estão fragmentados em linhas sectárias e políticas, e em guerra uns com os outros em campos de batalha por toda a região. Por causa disso eles têm tido pouco tempo para se dedicar a culpar Israel por seus fracassos.

O Oriente Médio pós-arabismo expõe a verdade que tem sido obscurecida por 100 anos: Os judeus e seu estado são um componente natural daquela vizinhança tão diversificada, assim como os curdos, os cristãos, os drusos e as várias seitas muçulmanas. O fim do pan-arabismo é uma grande oportunidade para que as minorias da região possam construir as alianças que precisam para sobreviver e prosperar. 

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Dois estados é uma solução? Ou: Hudna, é possível negociar com o Islã?


 A solução dos dois estados não deve ser encarada com uma ideologia ou um mantra, mas como uma fórmula que deve ser julgada de acordo com a sua aplicabilidade prática.
 Itzhak Rabin e Yasser Arafat apertam as mãos durante o fracassado acordo de Oslo: para os tolos israelenses a paz, para os muçulmanos apenas mais um passo na destruição de Israel


As negociações de paz no Oriente Médio são um exemplo muito claro do que se chama 'guerra assimétrica' -- no caso negociações assimétricas: Israel quer e precisa de paz, o Islã não quer e nem precisa de paz. Pelo contrário, as negociações de seu lado são apenas um engodo permanente para desviar a atenção de seu real objetivo: a destruição do que eles chamam entidade sionista e a expulsão dos judeus de sua terra.


Entrevista com Abbas Zaki (um dos líderes do 'moderado' Fatah e da Autoridade Palestina) em um canal por satélite sírio, 23 de dezembro de 2013:


Apresentador da TV síria: "Quando eles falam sobre [os EUA] impor uma solução, sabemos que vai ela ser deficiente."

Membro do Comitê Central do Fatah, Abbas Zaki: "Você pode relaxar. Encontramo-nos unidos pela primeira vez. Até mesmo os mais radicais entre nós -- o Hamas ou as forças de combate -- querem um Estado dentro das fronteiras  de 1967. Depois nós teremos algo a dizer, porque a idéia inspiradora não pode ser alcançada de uma vez, [ao contrário, deve ser] em etapas."


Ao se referir ao "processo de paz" ou a panacéia pacifista da vez para o conflito entre o Estado de Israel e os grupos terroristas palestinos, nossa mídia mascarada tem evitado usar o termo Hudna, o lado palestino (árabe-muçulmano) da pantomima. 

E o que vem a ser isso? Hudna é uma palavra árabe que serve para designar aquilo que qualquer general conhece e que todo adversário preparado recusa e aproveita para atacar. Mas como foi um termo utilizado pelo profeta Maomé,  adquire uma espécie de aura respeitosa (ao menos para muçulmanos...) que aumenta o despistamento.

O termo é geralmente traduzido na imprensa ocidental como trégua de duração temporária pré-determinada -- nos jornais em inglês o seu equivalente é Truce -- para entabular negociações visando a paz. Mas esta tradução deixa de lado o significado religioso, histórico e mesmo o sentido atual dado ao termo pelos chefes das quadrilhas de guerrilheiros e terroristas islâmicos.

O Profeta Maomé, então exilado em Medina, era constantemente ameaçado pelos membros de sua tribo coraixita, que controlavam Meca (a cidade mais sagrada para os árabes) e não reconheciam sua liderança espiritual nem aceitavam seu monoteísmo. Após várias escaramuças, no ano de 628, Maomé ofereceu-lhes paz, prometendo a segurança de suas caravanas em troca da permissão de realizar os ritos de peregrinação anual à Caaba (1). 

Os coraixitas responderam que um ano de paz deveria preceder o acordo. Maomé declarou então uma trégua -– que denominou hudna -- de 10 anos, conhecida como acordo de Hodaibiah. Para consolar seus guerreiros o profeta muçulmano atacou e saqueou os judeus de khaibar em sua colônia a nordeste de Medina: noventa e três foram chacinados e os demais, para sobreviver, entregaram suas propriedades e metade de suas futuras colheitas.

Durante os dois anos seguintes, Maomé aproveitou a Hudna para reforçar seu exército e, como mestre do despistamento que era, usou a desculpa de uma infração menor qualquer cometida pelos coraixitas para lançar um ataque devastador, com um já considerável exército de 10.000 homens, e retomou Meca.

Este é o verdadeiro significado da hudna: acenar falsamente com uma trégua que não serve para o fim expresso –- preparar a paz -– mas para o fim secreto de descansar, reforçar e ampliar suas forças quando a situação é desesperadora e a derrota está próxima.

Historicamente este tem sido sempre o sentido dado pelas forças árabes em luta: acumular forças para o próximo round. Não é mais do que uma trapaça, “veneno com cobertura de mel”, como disse Gideon Meir, um antigo vice-ministro do exterior de Israel.


O PAPEL DA HUDNA NO ATUAL CONFLITO



Numa entrevista na TV Palestina, Abd Al-Malek, membro árabe do parlamento de Israel (é, lá no “território ocupado pelos sionistas” tem disto!), ao responder a uma afirmativa de um expectador de que “nosso problema com Israel não é um problema de fronteira, mas de existência...”, disse: “É, nós exageramos quando falamos de ‘paz’ .... quando o que nós realmente queremos dizer é Hudna”. E é aqui que vem o “pulo do gato” que quem entende árabe já percebeu há muito: quando as autoridades palestinas falam em seu idioma para seu próprio povo, e não nas entrevistas em Inglês em fóruns internacionais, eles usam Hudna e deixam claro que não há nenhuma paz em vista, mas apenas um cessar-fogo temporário que, além da finalidade tradicional já exposta, tem outra: a de iludir a tal “comunidade internacional”. 



Todos os acordos assinados por eles são pura farsa, e conseguem enganar direitinho aos trouxas que neles acreditam -- com direito até a Prêmio Nobel da Paz. Assim foi em 1994, quando Yasser Arafat explicou, em árabe, para os palestinos, que os acordos de Oslo eram uma Hudna no caminho para Jerusalém. 

Aqui vemos Yasser arafat explicando o motivo de ter assinado os Acordos de Oslo: 'Hudaybiya'



Depois, em 2000, seguindo o próprio profeta, seu mestre de despistamento, e usando como pretexto a visita de Ariel Sharon ao Monte do Templo (o lugar mais sagrado para o judaísmo, que os muçulmanos chamam de Esplanada das Mesquitas) criou a tal da "pequena infração inimiga" quebrando a Hudna e se lançando à nova guerra, conhecida como Segunda Intifada, ou Intifada de al-Aqsa.



O acordo de Hodaibiah é sempre mencionado como modelo para todo e qualquer ato de cessar-fogo assinado pelas autoridades, e compreendido como parte de um processo estratégico final: a libertação da "Palestina" e a expulsão dos judeus para o mar. Estes acordos são sempre assinados quando o balanço de força do momento está desfavorável às suas hostes.



ALGUNS EXEMPLOS DA “SINCERIDADE” PALESTINA – EM ÁRABE, EVIDENTEMENTE



Ministro do Abastecimento da Autoridade Palestina (AP), Abd El-Aziz Shahian: 

“Oslo é apenas o primeiro passo na destruição de Israel, não um acordo permanente”.


Pregador Dr Ahmed Yousuf Abu Halbiah, da AP: 
“A Nação Palestina é a vanguarda de Allah contra os Judeus, até a ressurreição dos mortos (...) até que o destino de Allah seja cumprido”.

Othman Abu Arbiah, assessor político e educacional de Arafat: 
”O Estado Palestino com capital em al-Quds (Jerusalém, em Árabe) é apenas o primeiro estágio (...) na destruição dos colonizadores sionistas”.

Sheik Yousuf Abi Snina, pregador da mesquita al-Aqsa:
“A terra Palestina é terra Waqf que pertence aos fiéis do Islam desde o início dos tempos e ninguém tem o direito de (...) fazer concessões ou de abandona-la. (...) São traidores e criminosos que merecem o Inferno todos os que aceitam a existência de Israel, que inclui ceder Haifa, Lod, Nazareth e Ashkelon”. No mesmo sermão concede a Arafat um Selo de Aprovação Shariático (Lei Islâmica) para estabelecer uma hudna.

Salim Alwadia Abu Salem, supervisor para assuntos políticos da AP: 
“Quando nós pegamos em armas em 1965 e teve início a moderna revolução Palestina, nós tínhamos um único objetivo, que não mudou e não mudará nunca: a libertação da Palestina (da ocupação sionista)”.


Os milhares de exemplos são todos repetição ad nauseam da mesma cantilena.


CONCLUSÕES

As mensagens de paz das lideranças israelenses e árabes aos seus respectivos povos são exatamente o oposto uma da outra (2).

Os líderes israelenses estão dizendo: o acordo permanente será doloroso, mas devemos aceita-lo porque ele marcará o fim do conflito.

Os líderes árabes-palestinos, por sua vez, dizem: o acordo permanente será doloroso, mas devemos aceita-lo porque não significa o fim do conflito, mas é apenas uma fase do mesmo.


Dá para acreditar em Paz?



(1) Para mais detalhes históricos, ver meus artigos

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Judéia e Samaria: Os assentamentos israelenses são mesmo ilegais? Eles violam a Convenção de Genebra?



Esse mito é um dos mais difundidos na mídia por ser uma das principais cartadas políticas da Autoridade Palestina. É uma mentira tão amplamente aceita que raramente é discutida em quaisquer círculos.

Os dois argumentos legais usados contra os assentamentos baseiam-se em duas convenções internacionais, as Convenções de Haia, de 1899 e 1907, e a Quarta Convenção de Genebra de 1949.

A violação da primeira é menos citada e mais simples de refutar. Estabelecidos em 1899 e 1907 como um primeiro esforço formal no estabelecimento das leis de guerra, os artigos das Convenções de Haia que lidam com a situação de refugiados e terras ocupadas foram claramente voltados para ocupações breves e em situações até então conhecidas em conflitos, visando proteger os interesses dos soberanos das regiões ocupadas.

Logo após a vitória devastadora da Guerra dos Seis Dias, governo e população israelense acreditavam que o mundo árabe aceitaria negociações e acordos de paz em troca das terras capturadas. Nunca perdendo uma oportunidade de perder uma oportunidade, os líderes árabes reuniram-se na notória Conferência de Cartum e estabeleceram os três princípios que regulariam as ações do pós-guerra: não fazer a paz com Israel, não reconhecer Israel, não negociar com Israel. O país ficou em uma posição curiosa e talvez única ao longo da história, disposto a retornar as terras conquistadas em troca de paz, mas sem ninguém interessado em receber.

Diante dos "três nãos" do mundo árabe, a situação claramente se perpetuaria por vários anos. A ligação histórica com Jerusalem levou à construção de vários bairros e a unificação com o lado ocidental da cidade, dentro das fronteiras israelenses. Terras na Cisjordânia, Sinai e principalmente o Golan receberam diversos assentamentos por razões estratégicas, históricas e religiosas. O Sinai acabou sendo retornado ao Egito depois do acordo de paz feito pelo presidente Anwar Sadat, que pagou com a própria vida por romper o acordo com os outros líderes árabes ao ser assassinado pela Jihad Islâmica.


A inadequação e obsolescência das Convenções de Haia quanto a questão é patente. Mesmo sem ser signatário, Israel reconhece a autoridade e em vários aspectos é um dos poucos países em conflito que respeita vários artigos frequentemente deprezados. Por exemplo, o estabelecimento da administração militar na Cisjordânia torna Israel um dos poucos países de acordo com as convenções. Até o estabelecimento da Autoridade Palestina, Israel continuou seguindo as leis jordanianas de acordo com o artigo 43, mesmo com a Jordânia tendo ocupado ilegalmente a região em 1948.

O argumento frequentemente usado é o artigo 46, que proíbe o ocupante de confiscar propriedades privadas. O argumento é simplesmente falso, já que a maioria dos assentamentos são estabelecidos em áreas públicas municipais. Propriedades privadas podem ser requisitadas para uso estratégico mediante compensação, mas desde 1979 a Suprema Corte de Israel determinou que autoridades militares não podem requisitar terras particulares para estabelecer assentamentos civis. Vale a pena notar que uma das bases de tal decisão são as Convenções de Genebra, que explicarei mais adiante.

Apesar de legal, o estabelecimento de assentamentos em áreas públicas pode não ser justo por problemas legais envolvendo a posse das terras. Em um post anterior elucidei a questão da posse privada e pública de terras desde o mandato britânico. Em alguns casos pode não haver a possibilidade de comprovar a posse legítima das terras, que pode remontar ao regime praticamente feudal do Império Otomano, tampouco o pagamento de impostos que legitimaria o uso de terras públicas. Esses casos costumam gerar mais controvérsia, mas são de difícil solução legal. Um dos maiores assentamentos judaicos foi estabelecido em terras nessas condições, a cidade de Ma'ale Adumin.

Um detalhe raramente mencionado é que uma pequena parte das terras requisitadas para fins militares são propriedade particular de judeus, e têm preferência em alguns casos justamente pela menor dificuldade dos trâmites legais.


As complicações legais inerentes a questão da posse de terras faz com que o argumento mais utilizado contra os assentamentos seja mesmo o artigo 49 da 4° Convenção de Genebra, especificamente os parágrafos 1 e 6:

"As transferências forçadas, em massa ou individuais, bem como as deportações de pessoas protegidas do território ocupado para o da Potência ocupante ou para o de qualquer outro país, ocupado ou não, são proibidas, qualquer que seja o motivo.

"A Potência ocupante não poderá proceder à deportação ou à transferência de uma parte da sua própria população civil para o território por ela ocupado. 


Geralmente os argumentos assumem que a validade legal do artigo à questão dos assentamentos seja tão cristalina que não exija quaisquer explicações, o que está longe de ser o caso. Tais artigos foram estabelecidos logo após a segunda-guerra, determinando claramente que a transferência forçada é ilegal, tendo em mente os atos praticados pela Alemanha Nazista, como a transferência da população judaica para campos de extermínio e trabalhos forçados na Polônia, a evacuação da população alemã para países escandinavos diante da invasão soviética, etc.

O grande problema é que os assentamentos judaicos em Israel não são uma transferência forçada, pelo contrário, são movimentos voluntários. Vários assentamentos foram estabelecidos sem permissão, em condições ilegais, acabando reconhecidos posteriormente em decisões judiciais ou atos políticos que consideraram as questões de posse de terras mencionadas acima. Muitos desses assentamentos são justamente de famílias judaicas que viviam na Cisjordânia e foram expulsas ou perseguidas pela população árabe antes da independência de Israel e esperavam um retorno.

A cidade de Hebron é um excelente exemplo. Em 1929 o massacre incitado pelo Mufti de Jerusalém à população judaica da cidade levou os sobreviventes a fugirem de suas propriedades. Após a independência de Israel, muitos retornaram. Até hoje sobreviventes e descendentes vivem divididos quanto a retornar, e uma minoria estabelecida necessita de constante proteção militar, que gera mais violência dos dois lados.

Placas como essa estão presentes em diversos pontos da cidade de Hebron. Elas marcam terras que foram compradas por judeus, em 1807, e tomadas pelos árabes em 1929, depois que eles massacraram a população judaica da cidade

Uma ironia interessante é que o parágrafo 6 do artigo 49 foi proposto justamente por um judeu dinamarquês diante da situação dos cidadãos alemães que em 1948 ainda estavam em campos de concentração escandinavos aguardando deportação para a Alemanha. Sabendo que os soviéticos atacariam a população civil o governo nazista tentou evacuar a população do leste do país antes da invasão. Com os danos à infra-estrutura de transportes essa população foi deixada em outros países, em vários casos expulsando a população local.

O artigo aplica-se claramente a vários casos de transferência forçada de populações desde a Segunda Guerra Mundial. A emigração forçada da Rússia para os Balcãs promovida pela União Soviética, da China para o Tibet, do Marrocos para o Sahara Ocidental, etc. Nenhum desses casos é denunciado com base no mesmo artigo usado para atacar Israel.

A insistência nesse argumento é um exemplo claro do anti-semitismo velado de muitas críticas a Israel, simples de demonstrar. Se um árabe-israelense cuja família seja nativa do Iraque ou qualquer outro país desejar se mudar voluntariamente para qualquer parte da Cisjordânia, Faixa de Gaza ou Golan, absolutamente ninguém no mundo alegará que ação é ilegal. Se um judeu descendente da população judaica expulsa dessas regiões entre 1929 e 1948 deseja retornar à terra de seus pais e faz o mesmo, a ação será denunciada como ilegal.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Turquia x Chipre, uma comparação entre a "ocupação" israelense e a ocupação turca

Varosha-Chipre

Em face às recentes críticas de Ancara sobre o que chama de "prisão a céu aberto" de Israel em Gaza, realizadas na data de hoje, que marca o aniversário da invasão de Chipre pela Turquia, sua relevância é fora do comum.
A política turca frente a Israel, historicamente cordial e que apenas há uma década estava próxima a uma aliança total, esfriou desde que os islamistas tomaram o poder em Ancara em 2002. Sua hostilidade se tornou explícita em janeiro de 2009, durante a guerra Israel-Hamas. O Primeiro Ministro Recep Tayyip Erdoğan pomposamente condenou a política israelense como "perpetração de ações desumanas que levará a autodestruição" e até invocou Deus ("Alá irá... punir aqueles que transgridem os direitos dos inocentes"). Sua esposa Emine Erdoğan hiperbolicamente condenou as ações israelenses como sendo tão terríveis que "sequer podiam ser expressas em palavras".
Suas agressões verbais auguraram hostilidades adicionais que incluíram insultar o presidente de Israel, ajudar a patrocinar a "Flotilha da Liberdade" e chamar de volta o embaixador turco.
Essa fúria turca provoca uma pergunta: Israel em Gaza é realmente pior do que a Turquia no Chipre? Uma comparação mostra sua alta improbabilidade. Veja alguns contrastes:

* - A invasão turca de julho-agosto de 1974 envolveu o uso de napalm e "espalhou terror" entre os aldeões gregos cipriotas, de acordo com o Minority Rights Group International. Contrastando, a "batalha feroz" de Israel para tomar Gaza contou somente com armas convencionais e resultou virtualmente sem vítimas civis.
* - A ocupação subsequente de 37 porcento da ilha equipara-se a "limpeza étnica forçada" segundo William Mallinson em uma monografia que acaba de ser publicada pela Universidade de Minnesota. Contrastando, se alguém deseja acusar as autoridades israelenses de limpeza étnica em Gaza, ela foi contra seu próprio povo, os judeus, em 2005.
* - O governo turco tem patrocinado o que Mallinson chama de "política sistemática de colonização" em terras anteriormente gregas no norte de Chipre. Os turcos cipriotas totalizavam cerca de 120.000 em 1973; desde então, mais de 160.000 cidadãos da República da Turquia foram assentados em suas terras. Nem uma única comunidade israelense permanece em Gaza.
* - Ancara governa a zona ocupada com tanta rigidez que, nas palavras de Bülent Akarcalı, político veterano turco, "O Norte de Chipre é governado como se fosse uma província da Turquia". Um inimigo de Israel, o Hamas, governa em Gaza.
* - Os turcos montaram uma estrutura que faz de conta ser autônoma chamada de "A República Turca do Norte de Chipre". Os habitantes de Gaza desfrutam de uma verdadeira autonomia.
* - Um muro que atravessa a ilha mantém os pacíficos gregos fora do norte de Chipre. O muro de Israel exclui terroristas palestinos.
DivisaoChipredesde74

E ainda temos a cidade fantasma de Famagusta, onde as ações turcas correspondem às da Síria sob os criminosos Assad. Após a força aérea turca ter bombardeado a cidade portuária cipriota, as forças turcas entraram para se apossarem dela, com isso impelindo toda a população grega (temendo um massacre) a fugir. As tropas turcas isolaram a área central da cidade, chamada Varosha e a ninguém é permitido morar lá.
Conforme esse centro grego em ruínas é invadido pela natureza, ele se torna uma bizarra cápsula do tempo de 1974. Steven Plaut da Universidade de Haifa visitou-a e relata: "Nada mudou. ... Diz-se que as agências de automóveis no centro fantasma, até os dias de hoje estão estocadas com modelos antigos de 1974. Por anos após o estupro de Famagusta, a população contava que ainda via lâmpadas acesas nas janelas dos edifícios abandonados".
Curiosamente, outra cidade fantasma levantina também data do verão de 1974. Exatamente 24 dias antes da invasão de Chipre pelos turcos, tropas israelenses evacuaram a cidade fronteiriça de Quneitra, entregando-a às autoridades Sírias. Hafez al-Assad optou, também por motivos políticos, não permitir que ninguém morasse lá. Décadas mais tarde, ela também permanece vazia, refém da beligerância.
Erdoğan alega que as tropas turcas não estão ocupando o norte de Chipre, e sim, estão lá na "Capacidade turca como potência garantidora", seja lá o que isso queira dizer. O mundo, no entanto, não é trapaceado. Se Elvis Costello cancelou recentemente um concerto em Tel-Aviv em protesto pelo "sofrimento dos inocentes [palestinos]," Jennifer Lopez cancelou um concerto no norte de Chipre em protesto à "violação dos direitos humanos".
Em suma, o Norte de Chipre compartilha características com a Síria que lembram muito mais uma "prisão a céu aberto" do que Gaza. Interessante que uma Ancara hipócrita se coloque no alto do pedestal dando lição de moral sobre Gaza mesmo que ela própria aja de forma bem mais agressiva na área que governa. Em vez de se intrometer em Gaza, os líderes turcos deviam acabar com a ocupação ilegal e destruidora que por décadas divide o Chipre de forma trágica.

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Colunista egípcio sobre o bloqueio israelense/egípcio de Gaza: "Devemos [o povo egípcio] rezar a Alá para nos prejudicar com tal bloqueio"



 Tomates em um suq [mercado] na Faixa de Gaza


Em sua coluna no jornal egípcio Rooz al-Yousuf, no dia 29 de junho de 2010, Muhammad Hamadi apresentou estatísticas de um site do Hamas mostrando que, apesar de toda a conversa sobre um bloqueio a Faixa de Gaza, e em contraste com alegações de que o Egito tem um culpa na fome do povo palestino, há tantos bens de consumo em Gaza que a oferta é maior do que a demanda -- e, como resultado, o preço de aves e carne de boi é mais baixo lá do que no Egito.



Segue abaixo a tradução de trechos do artigo.

O Hamas "passou para a resistência online e na mídia"
"Depois que o movimento [Hamas] abandonou a resistência real e virou-se para a resistência virtual e nos meios de comunicação, um dos muitos sites do Hamas publicou um importante relatório comparando os preços de bens de consumo no Egito e em Gaza."

"O relatório afirma: um quilo de melancia em Gaza custa menos do que uma lira egípcia, enquanto no Egito custa mais de duas liras; um quilo de tomates em Gaza custa menos de metade de uma lira, enquanto no Egito custa 1,50 lira; um quilo de batatas em Gaza custa metade de um lira, enquanto no Egito custa duas liras; um quilo de cebolas em Gaza é uma lira, enquanto no Egito um quilo de cebolas custa 1,50 lira; um quilo de alho em Gaza custa 10 liras egípcias, enquanto que no Egito o mesmo produto custa 15 liras."

 A fartura em Gaza contrasta com a escassez de alimentos no Egito


"Um quilo de carne de frango no Egito custa 20 liras, e em Gaza o mesmo produto sai por apenas 10 liras. O preço médio de um quilo de carne no Egito é de 60 liras, enquanto na Gaza 'sitiada' ele sai por cinco liras. Uma bandeja de ovos no Egito custa 19 liras, enquanto em Gaza é apenas 10 liras."


De que bloqueio eles estão falando?
"Essa comparação de preços entre o Egito e a Faixa de Gaza, que foi sitiada por três anos -- ou assim eles dizem -- mostra que a vida em estado de sítio é mais barata, mais conveniente e mais fácil..."

"Então, de que cerco eles estão falando? Será que o bloqueio causa queda de preços? E como bens de consumo estão fluindo em Gaza apesar do bloqueio?"

"Estas questões não estão sendo levantadas [aqui], na expectativa de uma resposta do Hamas. Elas são dirigidas a todos os simpatizantes do Hamas aqui no Egito, que não vêem nada de errado em acusar seu próprio país de trair a causa palestina e de deixar o indefeso povo palestino morrer de fome com um cerco opressivo em Gaza."

"Se assim é [a vida] em Gaza sob bloqueio, então o povo egípcio, que tem sido queimado pelo fogo dos preços e que ainda pega parte de sua limitada renda para salvar os moradores de Gaza sob cerco, [deve] orar a Alá para ferí-los com [tal] cerco, caso o bloqueio vá causar a queda de preços e permitir que cada cidadão comum possa comprar ovos, carne e aves, assim como fazem os moradores de Gaza."


O repórter dinamarquês Steffen Jensen descreve a mesma fartura e questiona onde está a crise humanitária em Gaza. As fotos contidas nesse post foram retiradas de sua reportagem.

terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Refugiados árabes da Palestina... de quem é a culpa?

Ismail Haniyeh, líder do Hamas, mostra um mapa onde Israel é substituído por um fictício estado árabe "palestino"


A guerra de independência de Israel se divide em duas partes: violentos combates começaram horas após a votação nas Nações Unidas aprovando a partilha da Palestina em 29 de novembro de 1947 e duraram até a véspera da evacuação britânica em 14 de maio de 1948. Já o conflito internacional começou no dia 15 de maio (um dia após a criação de Israel), quando cinco exércitos árabes invadiram o estado judeu. As hostilidades continuaram até janeiro de 1949. 

A primeira fase do conflito consistiu, principalmente, em uma guerra de guerrilha. A segunda, em uma guerra convencional. Mais da metade (entre 300.000 e 340.000) dos 600.000 refugiados árabes fugiram antes da evacuação britânica, a maioria no último mês.
Os palestinos fugiram devido a uma grande variedade de circunstâncias e por diversas razões. Os comandantes árabes ordenaram aos não combatentes que saíssem do caminho das manobras militares e ameaçavam retardatários com tratamento dispensado a traidores caso ficassem. Eles ainda exigiam que as aldeias fossem evacuadas a fim de melhorarem seu posicionamento no campo de batalha e prometiam aos residentes que eles voltariam sãos e salvos em questão de dias. 


Em um programa onde conversa com ouvintes, Ibrahim Sarsur, o líder do movimento islâmico, falou sobre os refugiados árabes e, junto com o ouvinte que liga de Gaza, culpa os líderes árabes pelo problema. 
Programa de TV exibido em 30 de abril de 1999, no canal do Fatah, da Autoridade Palestina:




Ouvinte de Gaza: Sr. Ibrahim, dirijo-me a você como um muçulmano. Meu pai e meu avô me disseram que durante a "catástrofe" (o estabelecimento de Israel), o oficial de nosso distrito emitiu uma ordem dizendo que quem ficasse na Palestina e em Majdel (no sul de Israel, perto de Ashkelon) é um traidor, ele é um traidor...


Ibrahim Sarsur: Eu não quero culpar aquele que causou essa situação, mas somos forçados a lidar com essa situação.
Quem deu a ordem os proibindo de ficar lá carrega a culpa por isso nesta vida e na próxima.


Algumas comunidades preferiam fugir a assinar um armistício com os sionistas; nas palavras do prefeito de Jaffa, "eu não me importo com a destruição de Jaffa desde que consigamos a destruição de Tel-Aviv".

-- Agentes do mufti atacaram os judeus com o propósito de provocar hostilidades 
-- Famílias com recursos fugiram do perigo. Quando os inquilinos agrícolas ouviram que os proprietários seriam punidos, ficaram com medo de serem expulsos e se anteciparam abandonando as terras. 
-- Hostilidades mortíferas impediram qualquer planejamento:  a escassez de alimentos e de outros bens de primeira necessidade se espalhou. Serviços como estações de bombeamento de água foram abandonados. --- O medo de pistoleiros árabes se alastrou, assim como rumores de atrocidades dos sionistas.
Em apenas um caso (Lydda), os árabes foram forçados a sair pelas tropas israelenses. A singularidade desse evento merece ênfase. O historiador Efraim Karsh explica acerca de toda a primeira fase da batalha: "Nenhum dos 170.000–180.000 árabes que fugiram dos centros urbanos e somente um punhado dos 130.000–160.000 aldeões que deixaram seus lares, foram forçados a sair pelos judeus".
A liderança palestina desaprovava o retorno da população, vendo nisso o reconhecimento implícito do nascimento do Estado de Israel. A princípio os israelenses estavam dispostos a aceitar o retorno dos deslocados de guerra, mas depois endureceram sua posição a medida que a guerra progredia. O Primeiro Ministro Ben-Gurion explicava seu modo de pensar em 16 de junho de 1948: "Esta será uma guerra de vida ou morte e [os deslocados de guerra] não devem retornar aos lugares abandonados. . .  Nós não começamos a guerra. Eles começaram a guerra. Jaffa começou a guerra contra nós, Haifa começou a guerra contra nós, Beisan começou a guerra contra nós. E eu não quero que eles comecem uma guerra novamente".
Resumindo, explica Karsh, "foram as ações dos líderes árabes que condenaram centenas de milhares de palestinos ao exílio".



Palestine Betrayed (Palestina traida), Efraim Karsh