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segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Sabra e Chatila e o Massacre de Damour

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Com a morte de Ariel Sharon, todas as velhas acusações de responsabilidade no massacre de Sabra e Shatilla voltaram ao noticiário -- apesar de a investigação militar realizada tê-lo considerado apenas "indiretamente responsável" pelo ocorrido e do governador de Beirute, Antoine Lahad, ter afirmado ao jornal Yedioth Aharonoth que Sharon nada sabia e que não teve participação alguma no ocorrido. Em sua opinião o único erro do então ministro da defesa foi ter permitido que a milícia libanesa Falange entrasse nos campos de refugiados.

Um fato importante é que, na maioria das vezes, a Falange sequer é mencionada quando o massacre é discutido. O que torna o caso ainda pior é que o grupo ("Keta'eb", como é chamado nos dias de hoje no Líbano) ainda é um partido político ativo no país. Então ficamos assim: o grupo que atuou ativamente no campo e que foi responsável pelas mortes nem mesmo é mencionado enquanto Sharon leva toda a culpa pelo ocorrido... 



As Falanges Libanesas

O grupo controlado pela família Gemayel foi formado em 1936, como uma organização paramilitar de jovens cristãos maronitas.
Ao criar o partido, Pierre Gemayel se inspirou na Falange Espanhola e no Partido Nacional Fascista italiano. Outro movimento que serviu de inspiração foi o Nacional Socialismo alemão, que ele conheceu quando esteve em Berlim como atleta nas Olimpíadas de 1936. Na época nenhuma dessas ideologias tinha a reputação que tem hoje e, em entrevistas, Gemayel afirmou que o "Nazismo veio depois", e que nesses regimes ele via disciplina, e que "no Oriente Médio necessitamos de disciplina mais do que qualquer outra coisa".                         


File:Logo of Kataeb Party.svg
                                                         Símbolo do Keta'eb/ Falange


O partido nutria um forte sentimento nacionalista -- baseado no cristianismo e em suas origens fenícias -- e se opunha tanto à presença de países ocidentais no Líbano quanto ao pan-arabismo [1] [2], o que aproximava seus membros de Israel -- mas não tanto quanto a Igreja Maronita desejava.



O Massacre de Damour 

Em 20 de Janeiro de 1976, durante a guerra civil libanesa, uma cidade cristã ao sul da capital Beirute foi atacada pela Organização para a Libertação da Palestina (OLP), que tinha se unido a grupos muçulmanos libaneses contra os cristãos. Parte da população do local morreu em batalha e centenas foram assassinados no massacre que se seguiu. O número de civis maronitas mortos ficou entre 150 e 582.

O massacre de Sabra e Chatila foi uma resposta ao massacre de Damour e a anos de violência anti-cristã por parte dos muçulmanos libaneses e de seus aliados árabes-palestinos.


No video abaixo o poeta Said Akl, um dos maiores ícones do nacionalismo libanês, dá o tom do sentimento pro-Israel e anti-palestino que imperava entre os cristãos libaneses. As tensões sectárias no país nunca arrefeceram, e uma nova guerra civil é apenas questão de tempo.


[Tradução]

Não há um segundo passo, há apenas um [passo] para o herói Beguin (então primeiro-ministro de Israel): limpar o Líbano dos palestinos. Isso é o que o Líbano quer.
Se isso não acontecesse eu me sentiria tremendamente infeliz, assim como o resto da população libanesa.

Assim que o exército israelense entrasse no Líbano, todo o Líbano deveria ter se levantado e lutado ao seu lado. Se eu tivesse um batalhão militar, eu iria agora mesmo lutar ao lado do exército israelense.
Hoje no meu jornal, eu agradeci ao exército israelense num editorial chamado "Israel está aqui". Eu escrevi: "estou feliz por dois motivos: porque o exército está salvando a nós e ao mundo e [porque] está mostrando a cabeça da serpente ao mundo -- que se chama terrorismo" -- e eu vou falar sobre isso depois. 
Mas eu também estou triste porque não somos nós que estamos salvando o Líbano com os Israelenses, salvando dessa imundice palestina racista e sanguinária, que lidera o terrorismo no mundo.

Pergunta: E por que você não tomou parte na operação?

Eu acredito que existam alguns políticos corruptos no Líbano, e a maioría deles está no governo. Eles não permitíram que os libaneses tomassem partido.
O povo libanês travou uma boa guerra contra os palestinos, mas [Yasser] Arafat enganou e extorquiu os países produtores de petróleo e agora tem mais de 70 bilhoes de dólares. Nesses últimos dois dias ele comprou líderes na Europa e nos Estados Unidos para agir contra você, para dizer que este exército [de Israel] que está salvando o Líbano é um invasor -- mas qualquer um que diga isso deveria ser decapitado!
Em nome do Líbano, eu te digo que esse é o único exército da salvação. 

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Israel, os cristãos e a morte do pan-arabismo

Gabriel Nadaf, o padre da igreja ortodoxa grega na Galiléia que tenta livrar os cristãos de Israel da mentalidade que os acorrenta ao nacionalismo árabe que tanto os oprime.



A chamada "Primavera Árabe" desencadeou forças que estiveram dormentes por um século. Como seus colegas espalhados por toda a região, as minorias arabizadas de Israel estão mudando de forma profunda.

Considere a comunidade cristã.

Gabriel Nadaf, um padre ortodoxo grego de Nazaré, tornou-se o símbolo deste novo período. Nadaf é o líder espiritual de um movimento cristão israelense que defende que a juventude cristã do país deve se alistar no serviço militar. Ele é responsável por um aumento de 300% no alistamento "árabe" cristão nas Forças de Defesa de Israel no ano passado.

E o padre não esconde seu objetivo nem sua motivação. Ele busca a integração total dos 130.000 cristãos de Israel na sociedade israelense, e vê o serviço militar como a chave para que isso ocorra.
Já sua motivação foi testemunhar as terríveis perseguiçoes de cristãos em todo o "mundo árabe" desde o início da onda revolucionária, em dezembro de 2010.


 à luz do que vemos acontecer com os cristãos nos países árabes, a forma como são massacrados e perseguidos diariamente, sendo mortos e estuprados só porque são cristãos... Isso acontece no Estado de Israel? Não, não acontece."
Shahdi Halul, um capitão da reserva no batalhão de pára-quedistas que trabalha com Nadaf, declarou: "Todo cristão no Estado de Israel deve se juntar ao exército e defender o país para que ele exista para sempre. Porque se, Deus me livre, o governo daqui for derrubado, assim como foi em outros lugares, nós seremos os primeiros a sofrer."

Esses homens e seus apoiadores são o resultado natural do desenvolvimento revolucionário mais significativo da chamada Primavera Árabe: o fim do nacionalismo árabe.

Como explicou Ofir Ha'ivry, o vice-presidente do Instituto de Herzl, o nacionalismo árabe nasceu do pan-arabismo -- uma invenção de potências europeias durante a Primeira Guerra Mundial, quando elas procuravam conferir uma nova identidade ao Oriente Médio pós-Otomano.

O núcleo da nova identidade era a língua árabe. As aspirações tribais, religiosas, étnicas e nacionalistas dos povos da região de língua árabe foram sufocadas e substituídas por uma nova identidade pan-árabe.

Para os cristãos do antigo império Otomano, o pan-arabismo foi um bem vindo meio de se livrar das leis islâmicas de Omar, que reduziam os não-muçulmanos que viviam sob o domínio muçulmano ao status de dhimmis impotentes, cuja a única existência possivel era na forma de sobreviventes indefesos sob total controle de seus governantes islâmicos.

Mas agora que o pan-arabismo está em ruínas do norte da África até a Península Arábica os habitantes da região voltaram a se identificar por tribos, religião, etnia, e, no caso dos curdos e bérberes, de acordo com sua identidade nacional não-arabe. Nesta nova era, os cristãos encontram-se em perigo novamente, e com poucos protetores ou aliados dispostos a protege-los.

Como Ha'ivry observa, o desafio estratégico central de Israel foi sempre disputado com o pan-arabismo, que foi inventado ao mesmo tempo em que as nações do mundo abraçaram o sionismo moderno.
Desde a sua criação, os líderes pan-árabes sempre viram Israel como bode expiatório perfeito, o alvo ideal para desviar a atenção de sua incapacidade de cumprir as mirabolantes promessas de poder global do pan-arabismo.

Mas desde 1993, diz Ha'ivri, a estratégia nacional de Israel tem sido baseada em apaziguar os autoritários  líderes pan-árabes seculares, oferecendo terra por paz para a Síria e para a OLP. Ele ainda afirma que Shimon Peres é o padrinho político da estratégia acomodacionista de Israel, que é baseada em uma mistura de um sentimento de impotência por um lado, e de utopia pelo outro.

A sensação de impotência se deve a convicção de que Israel não pode influenciar seu ambiente e que os "árabes" são incapazes de mudar. Que os vizinhos de Israel sempre verão a si mesmos como árabes, e que eles sempre vão querer, mais do que qualquer outra coisa, estados árabes.

E, ao mesmo tempo, os acomodacionistas mantêm a crença utópica de que o apaziguamento israelense do nacionalismo árabe-palestino vai romper o muro de rejeição pan-árabe, acabando com o ódio contra o Estado judeu, e até mesmo levar os árabes a convidar Israel a aderir a Liga árabe...

A "Primavera Árabe" acabou com cada uma das crenças dos acomodacionistas. Do Egito à Tunísia, do Iraque à Síria, todos os vizinhos de Israel estão lutando entre si como sunitas, xiitas e salafistas, ou como membros de clãs e tribos, abandonando qualquer pretensão a uma identidade árabe comum. E o que a tola esquerda israelense -- obcecada por um estado palestino -- ainda não foi capaz de perceber é que muitos dos vizinhos de Israel não compartilham a idéia do Estado Judeu como um bode expiatório, assim como os proponentes do pan-arabismo. Então, subornar os agora irrelevantes nacionalistas árabes com outro Estado árabe pode fazer pouco além de criar mais uma nova vítima das revoluções.

E é porque eles vêem o que está acontecendo com seus correligionários no mundo pós pan-arabismo que mais e mais cristãos israelenses percebem que terão uma vida mais segura e mais próspera como cidadãos cristãos na única democracia do Oriente Médio do que como árabes lutando contra a "entidade sionista".


Ainda assim, a mudança não é tão simples. A maioria dos líderes árabes eleitos em Israel são muçulmanos e devem suas posições a uma tão cega quanto obstinada defesa do pan-arabismo. Esta posição lhes trouxe fama, dinheiro e apoio da OLP, da Europa e, desde 1993, da esquerda israelense.

E por isso, desde que ele apareceu pela primeira vez em cena, a vida do padre Nadaf tem sido constantemente ameaçada. Todos, desde os membros árabes do parlamento israelense até os comunistas infiltrados no Conselho Ortodoxo Grego tem incitado contra ele, acusando-o de trair a "nação árabe palestina".


Nadaf e seus seguidores respondem às acusaçoes com desprezo.
"Quando alguém me diz: 'Somos todos árabes', eu digo a ele: "Não, não somos todos os árabes. Você é um árabe. Eu não.", disse Halul a um canal de TV.

Samer Jozin, cuja filha Jennifer optou pelo serviço militar em vez da faculdade de medicina, concorda.
"Dizer que eu sou um palestino é uma maldição. Eu sou, graças a Deus, um cristão de Israel e sou orgulhoso disso. E agradeço a Deus que eu nasci na Terra de Israel ", disse ele.
A mensagem não poderia ser mais clara: Israel está baseando sua estratégia nacional em um mundo que não existe mais.

Hoje, os curdos -- um dos aliados muçulmanos mais antigos do Estado de Israel -- formaram estados praticamente independentes no Iraque e na Síria. Enquanto isso, cristãos em toda a região estão em fuga; drusos da Síria e do Líbano estão expostos, sem proteção e à procura de ajuda.

Quanto aos muçulmanos, eles estão fragmentados em linhas sectárias e políticas, e em guerra uns com os outros em campos de batalha por toda a região. Por causa disso eles têm tido pouco tempo para se dedicar a culpar Israel por seus fracassos.

O Oriente Médio pós-arabismo expõe a verdade que tem sido obscurecida por 100 anos: Os judeus e seu estado são um componente natural daquela vizinhança tão diversificada, assim como os curdos, os cristãos, os drusos e as várias seitas muçulmanas. O fim do pan-arabismo é uma grande oportunidade para que as minorias da região possam construir as alianças que precisam para sobreviver e prosperar. 

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Cristãos, os refugiados palestinos esquecidos

Por Daniel Schwammenthal*

Modern day Exodus: the Palestinian Christians


Encontro Yussuf Khoury, um refugiado palestino de 23 anos de idade. Não, ele não é um desses descendentes de refugiados que nasceram em campos administrados pelas Nações Unidas que jamais pisaram em sua alegada terra natal, mantidos na miséria eterna como arma publicitária contra Israel. Yussuf Khoury realmente fugiu de sua terra natal há apenas dois anos. Ele não estava fugindo de israelenses, mas de seus ‘irmãos’ palestinos em Gaza, buscando refúgio seguro na “ocupada” Margem Ocidental.


O crime de Khoury, no território administrado pelo Hamas, era ser um cristão. E essa grande transgressão foi agravada – aos olhos dos muçulmanos – quando souberam que ele escreveu poemas de amor.

Antes de fugir de Gaza,”muçulmanos do Hamas tentaram raptar-me duas vezes”, diz Khoury. Ele não quer saber o que lhe teria acontecido se tivesse sido sequestrado. Ele não vê sua família desde o Natal de 2007 e tem medo até mesmo de falar com eles por telefone.

Falando a um grupo de jornalistas estrangeiros na Faculdade Biblíca de Belém, onde reiniciou seu curso de teologia cristã, Khoury descreve uma vida de medo em Gaza. “Minha irmã está sob muita pressão por usar um véu. As pessoas estão se voltando cada vez mais para o fundamentalismo islâmico e a situação dos cristãos está muito difícil”, diz ele.

Em 2007, um ano após o Hamas ter assumido o poder, o dono da única livraria cristã de Gaza (Rami Khader Ayyad, de 32 anos) foi sequestrado e assassinado – encontrado morto com diversos tiros na cabeças e seu corpo com diversas perfurações a facas. Lojas e escolas cristãs foram bombardeadas. Não é de se admirar que a maioria dos amigos cristãos de Khoury também deixaram Gaza.

Nas raras vezes em que a midia ocidental divulga a situação dos cristãos nos territórios palestinos e em outras em sociedades árabes é para acusar Israel e seu “muro de separação”. No entanto, até que grupos terroristas palestinos começaram a usar Belém como refúgio seguro e trampolim para ataques suicidas à Israel. Antes, os habitantes de Belém eram livres para entrar e sair de Israel quando desejavam, com as mesmas facilidades com que muitos israelenses rotineiramente visitavam Belém.

Outra verdade, geralmente ignorada pelo Ocidente e raramente divulgada pela imprensa, é que a barreira de proteção ajudou a restaurar a calma e segurança não somente em Israel, mas também na Cisjordânia, e Belém. A Igreja da Natividade, que terroristas palestinos invadiram e profanaram em 2002, para escapar das forças de segurança israelenses, está novamente cheia de turistas e peregrinos de todo o mundo.

No entanto, mesmo na cidade onde Jesus nasceu, que está sob o controle da Autoridade Palestina, os cristãos vivem diariamente no fio da navalha. Khoury diz-nos que “…frequentemente os muçulmanos ficam em frente do portão do Colégio Biblíco, lendo o Alcorão em voz alta para intimidar os estudantes cristãos. Outros muçulmanos colocam seus tapetes de oração na Praça da Manjedoura.” Perguntado sobre o motivo dos muçulmanos rezarem tão perto de um dos lugares mais sagrados do cristianismo, o Pastor Alex Awad, decano dos estudantes da Faculdade Biblíca, diplomaticamente, aconselha-nos a apresentar esta questão aos próprios muçulmanos. Consciente da precária situação de sua comunidade, ele, como a maioria dos representantes dos palestinos cristãos, faz uma pausa e salienta que “…qualquer problema que os cristãos possam ter com seus vizinhos muçulmanos, não é culpa da ANP”.

“Os muçulmanos e os cristãos vivem aqui em relativa harmonia”, diz ele a imprensa, acrescentando apenas que os cristãos “sentem a pressão do Islã… Existe intimidação e fanatismo, mas estes são casos isolados e não há nenhuma perseguição geral.”

Samir Qumsieh, fundador do que ele diz ser a única estação de TV cristã da Terra Santa, enfatiza que não há sofrimento “cristão” e que os problemas dos cristãos não são orquestrados pela ANP. No entanto, suas histórias de roubo de terras, espancamentos e intimidações pintam um quadro bem diferente. Se a Autoridade Palestina realmente não aprovam tais injustiças, por que faz tão pouco para reprimi-las?

Só recentemente alguns cristãos começaram a falar sobre como gangues de muçulmanos simplesmente invadem e tomam posse de suas terras, e como os serviços de segurança palestinos – formados em quase sua totalidade por uçulmanos – não fazem absolutamente nada para reprimir esses roubos.

O Sr. Qumsieh nos fala sobre um homem cristão que foi raptado e torturado por muçulmanos em Hebron, e que a polícia palestina, mesmo sabendo do ocorrido e dos autores do crime, nada fez. Sua própria casa foi bombardeada há três anos e os autores jamais foram capturados. “Nós jamais sofremos como estamos sofrendo agora”, confessa Qumsieh, violando a sua própria advertência introdutória aos correspondentes estrangeiros, para não usarmos a palavra “sofrimento.”

Sempre uma religião minoritária entre os palestinos predominantemente muçulmanos, os cristãos estão, nas palavras do Sr. Qumsieh, “derretendo-se”, até mesmo em Belém. A 60 anos os cristãos representavam aproximadamente 80% da população de Belém, hoje são cerca de 20%, e diminuíndo rapidamente. Isto é resultado não somente da alta natalidade dos muçulmanos como também pela generalizada emigração cristã.

“Nosso futuro como comunidade cristã aqui é sombrio”, disse o Sr. Qumsieh.

O mundo continua ignorando os cristãos palestinos. Por que o sofrimento de palestinos não imputável a Israel não está registrado na consciência coletiva ocidental é uma pergunta que poucas pessoas parecem dispostas a fazer.





* Daniel Schwammenthal é editor do The Wall Street Journal Europa


terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Natal na Terra Santa em 1875


Peregrinos cristãos chegando na cidade de Belém em 1875 (Library of Congress)


A cidade de Belém desempenha um papel importante na fé cristã. Foi lá, os cristãos acreditam, o local onde Jesus nasceu cerca de 2.000 anos atrás, e é onde muitos deles celebram o seu nascimento no Natal.

Mas... quando é o Natal?
Belém abriga serviços de Natal para católicos e protestantes em 25 de dezembro. Já para coptas, gregos e sírios ortodoxos a celebração será na Igreja da Natividade, em 7 de janeiro. Para os  ortodoxos armênios o Natal será em 6 de janeiro.

O nome "Belém" é derivado do hebraico בית לחם -- Beith Leem/ Casa do Pão --, e seus campos de cereais são mencionados no Livro de Rute como o local onde ela conseguia trigo para a sua sogra Naomi, e onde conheceu seu futuro marido, Boaz. Ainda de acordo com a Bíblia, Daví, o bisneto de Rute, nasceu em Belém, cidade onde ele foi ungido como rei de Israel.



A Igreja da Natividade foi construída no ano de 339 pelo rei Constantino e sua mãe, Helena, sobre a gruta onde acredita-se ter sido o local de nascimento de Jesus. 
Ao longo da história, a igreja foi destruída/reconstruída por vários exércitos conquistadores --  persas, árabes, cruzados, mamelucos, otomanos e britânicos.

Até pouco tempo, Belém era considerada uma cidade tradicionalmente cristã. Construída em torno da basílica, o turismo sempre foi sua mais importante fonte de renda. Entretanto, nos últimos anos, a proporção de cristãos em Belém caiu de 75% em 1948 para 54% em 1967, e agora está em torno de apenas 15%. A cidade de Belém esteve sob controle jordaniano de 1948 até 1967 e, desde então, está sob controle da Autoridade Nacional Palestina.


Revisionismo palestino: em busca de uma história




O revisionismo histórico é a espinha dorsal do discurso político e acadêmico palestino. É assim que seus líderes tentam criar uma história "árabe palestina" e uma identidade própria, distinta do violento colonialismo da história árabe-islâmica no Levante.

Os árabes "palestinos" são uma criação recente e sequer existiam antes da criação da OLP em 1965. Um bom exemplo disso é a resolução 194 da ONU (1948) que trata dos refugiados que deixaram o local após a guerra que os países árabes  travaram contra Israel logo após sua independência: os refugiados não eram chamados de "refugiados palestinos", o que faria referência a uma identidade nacional, mas sim de "refugiados da palestina", referindo-se a geografia -- simplesmente o lugar de onde saíram.

Um dos métodos desta tentativa de criar uma história palestina é apresentar Jesus -- que de acordo com as escrituras cristãs era um judeu vivendo na terra da Judéia -- como um palestino, ao mesmo tempo em que o transformam em um profeta islâmico e se apropriam de conceitos cristãos.

 Jesus é um palestino; o abnegado Yasser Arafat é um palestino; Mahmoud Abbas, o mensageiro da paz na terra, é um palestino. Quão grande é esta nação da Santíssima Trindade! "
Al-Hayat Al-Jadida (Jornal oficial do Fatah e da Autoridade Palestina), 30 novembro 2012


Pois é, na "Santíssima Trindade" do jornal da Autoridade Palestina, Jesus é apenas Jesus. Já Arafat era "abnegado" e Mahmoud Abbas o "mensageiro da paz na terra"!



Jesus sendo comparado a terroristas palestinos presos em Israel







Líder religioso muçulmano diz que Jesus era um profeta islamico palestino

Jesus, o palestino

 
Jesus retratado como um terrorista suicida palestino


Eis que o Natal se aproxima, e junto com ele vem a já tradicional falsificação da história por parte da liderança árabe muçulmana, que apresenta Jesus como um árabe-cananeu-muçulmano-palestino (!).

No início de 2013, graças a um artigo no jornal oficial da Autoridade Palestina al-Hayat al-Jadida, o mundo inteiro descobriu que a história de Jesus "reflete a narrativa palestina". A manchete "A ressurreição de Jesus, a ressurreição do Estado" deixa claro que Jesus e a Autoridade Palestina são um, e que estão unidos para sempre - uma tentativa um tanto patética de convencer os cristãos (em plena Páscoa!) de que eles na verdade são muçulmanos e que o movimento sionista moderno roubou os "palestinos" de sua história.

Segundo o artigo, na verdade a "Páscoa é um feriado para o nacionalismo palestino, porque Jesus, que descanse em paz, é um cananeu palestino". O autor substituiu o Jesus judeu por um Jesus "palestino" -- mais adequado à propaganda árabe --, reescrevendo os Evangelhos que, logo em seus primeiros capítulos, falam dos registros genealógicos de Jesus e se referem ao seu local de nascimento como "Belém da Judéia".


 Depois que Jesus nasceu em Belém da Judeia, nos dias do rei Herodes, magos vindos do oriente chegaram a Jerusalém (Mateus 2:1)
Enquanto a tradição cristã e os escritos históricos do período retratam Jesus como um judeu vivendo na terra da Judéia (um dos reinos dos judeus), a Autoridade Palestina diz que ela e seu povo são seus verdadeiros descendentes. Esta não é apenas uma distorção da história pessoal de Jesus como relatado nos escritos cristãos, é também um anacronismo: o imperador Adriano mudou o nome da Judéia/Israel para "Palestina", a fim de punir a nação judaica depois que estes se rebelaram contra os ocupantes romanos, 136 anos após o nascimento de Jesus.


al-Hayat al-Jadida e seu Jesus palestino

"A visita do Papa é uma oportunidade para a liderança palestina apresentar sua causa... para que Sua Excelência [o papa] assuma a sua responsabilidade política e religiosa para com o povo da Terra Santa, o povo árabe palestino, o povo do Messias [Jesus]."
Al-Hayat Al-Jadida (Fatah), 9 de maio de 2009

"Os palestinos estão acostumados ​​com mortes como esta. O sofrimento do primeiro palestino -- o Messias -- começou com a Última Ceia."
Al-Hayat Al-Jadida (Fatah), Abril 30, 2008

"O Cristianismo nasceu em nossos países árabes e o Messias [Jesus] é um palestino sírio, nascido em Nazaré."
Al-Hayat Al-Jadida (Fatah), outubro 28, 2006

"O Shahids (mártires) vão chorar: 'Nós balançamos as palmeiras ao lado de Senhora Terra e da Senhora do povo, a Virgem Maria, e com seu filho [Jesus], o primeiro shahid (mártir) palestino."
Al-Hayat Al-Jadida (Fatah), 17 de janeiro de 2005

"A aldeia palestina da Galiléia e de Kfar Kana se orgulham do fato de que [na aldeia] o messias palestino [Jesus] conseguiu transformar água em vinho."
Al-Hayat Al-Jadida (Fatah), 17 de janeiro de 2005

"Eles [os cristãos] lêem no livro sagrado [a Bíblia] o nome "Palestina" e os verdadeiros nomes [árabes] de nossas aldeias e cidades ... Não devemos esquecer que o Messias [Jesus] é palestino, o filho de Maria, a Palestina."
Al-Hayat Al-Jadida (Fatah), 18 de novembro de 2005



Mufti (autoridade religiosa islâmica) diz que Jesus era um profeta muçulmano palestino

sábado, 21 de dezembro de 2013

Acordo Sykes-Picot, a criação do Oriente Médio como o conhecemos

Um século atrás, as potências européias redesenharam as fronteiras do Levante de acordo com suas próprias necessidades. Essas potências se foram mas o mapa permanece, juntamente com uma ironia: enquanto os europeus encontraram uma maneira melhor para definir suas próprias fronteiras, os estados que eles criaram depois de tomar a região do império otomano continuam a queimar e a se auto-destruir.


Mapa que mostra o território controlado pelo império turco-otomano no ano de 1914


Províncias otomanas se tornaram reinos árabes, enquanto enclaves cristãos e judeus foram criados no Líbano e na Palestina. 
Síria, Líbia e Palestina receberam nomes ressuscitados da antiguidade romana -- a Líbia reapareceu em 1934, quando os italianos juntaram Cirenaica, Tripolitânia e Fezzan. O mandato francês marcou a primeira vez que o nome "Síria" foi usado como o nome de um estado, ao passo que "Palestina" era apenas uma província síria. O Iraque tinha sido uma província medieval do califado, enquanto "Líbano" se referia a uma montanha e "Jordânia" a um rio.

Os novos estados 'árabes' adotaram derivações da bandeira da revolta árabe, que foi criada pelo diplomata britânico Sir Mark Sykes. As quatro cores da bandeira -- preto, branco, verde e vermelho -- representavam as diferentes dinastias árabes: abássidas, omíadas, fatimidas e hachemitas. Elas permanecem como as cores de metade das bandeiras árabes de hoje. Nem os nomes nem os símbolos dos novos estados tinham qualquer ligação com os seus habitantes, que sempre estabeleceram lealdades em relação a clãs, famílias, tribos, aldeias e seitas religiosas, não a países ou nações, uma importação européia que até hoje não fincou raízes em suas antigas colônias no Oriente Médio e na África. 

Flag of the Arab Revolt, designed by Sir Mark Sykes, flies in Aqaba, Jordan. Photo: Wikimedia
Bandeira da revolta árabe, concebida por Sir Mark Sykes, tremulando em Aqaba, na Jordânia


As fronteiras dos novos Estados não foram determinadas nem pela topografia nem pela demografia. Em 1916, o Acordo Sykes-Picot -- um pacto secreto entre franceses, britânicos e russos -- distribuiu os territórios em zonas regionais de controle. Esse foi o embrião do mapa atual do Oriente Médio. O grande problema é que os europeus tinham pouco interesse em entender o labirinto de identidades do Oriente Médio...

  • Uma grande população curda -- aproximadamente 25 milhões nos dias de hoje -- foi dividida entre quatro estados: Turquia, Irã, Iraque e Síria.
  • Os árabes xiitas foram divididos entre o Iraque, Kuwait, Bahrain e nas províncias orientais da Arábia Saudita.
  • Os alauítas, uma seita xiíta heterodoxa (considerada herege tanto por xiítas quanto por sunitas), residem hoje ao longo das costas libanesas, sírias e turcas.
  • Os drusos foram distribuídos entre Israel, Líbano e Síria.
  • O Líbano, supostamente um reduto cristão, acabou ficando com grandes populações sunitas e xiitas, além de alauítas e drusos.
  • A Palestina, que seria a pátria judaica, acabou dividida em três: Israel, territórios palestinos e Jordânia -- com uma enorme população sunita, além de consideráveis minorias cristãs e drusas, além de circassianos e outros grupos.  
  • Os árabes sunitas, que formavam a maioria da população no Oriente Médio, foram divididos em vários estados. Bolsões de turcomanos, circassianos, assírios, yazidis e caldeus foram isolados por toda parte (os três últimos grupos ficaram, principalmente, no Iraque).

Sykes Picot signatures
As assinaturas dos negociadores François Georges-Picot e Mark Sykes no mapa original, agora sob os cuidados do Arquivo Nacional britânico




Num primeiro momento, pensei em usar "Acordo Sykes-Picot, um desastre europeu no Oriente Médio" como título dessa postagem, mas esse seria um modo simplista, pretensioso e extremamente errado de entender o que se passa na região -- ou como eu costumo chamar: o método John Stewart de comentar política/história/religião.

Enquanto é verdade que o imperialismo europeu tem alguma responsabilidade no enorme derramamento de sangue nos países do Oriente Médio, o fato é que mesmo que estes tivessem sido criados de forma a ter uma população homogênia, com lingua, religião e cultura comuns, o número de mortes dificilmente seria muito menor. A diferença seria um menor número de guerras civis e massacres de minorias indefesas em seus próprios países, mas um número consideravelmente maior de conflitos entre nações. Como explicaram aos franceses os líderes alauítas, a verdadeira raíz dos problemas do Oriente Médio está no "espírito de fanatismo e estreiteza mental, cujas raízes são profundas no coração dos muçulmanos árabes para com todos aqueles que não são muçulmanos". O arcebispo maronita de Beirute seguia a mesma linha de raciocínio e, num depoimento a um órgão da ONU, acusava a "força brutal" do imperialismo islamico, que tentava apagar a história judaica e cristã da região.


Estudo que ajuda a entender a posição dos líderes alauítas sírios e dos maronitas libaneses
Gunnar Heinsohn, um professor da Universidade de Bremen (Alemanha), compilou estatísticas para classificar os grandes conflitos mundiais desde 1950 com base no número de mortes ocorridas. De acordo com esse estudo, desde 1950, 11 milhões de muçulmanos foram mortos em conflitos armados. Desse total, 90% das vítimas foram mortas por outros muçulmanos

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Phillip Hitti: novas e mais duras leis anti-judaicas e anti-cristãs durante o reino dos abássidas

território conquistado pelo califado abássida (750 - 1258)



Com a queda dos omíadas (umayyad), a hegemonia Síria no mundo islamico se acabou, assim como os tempos de glória do país.
Os abássidas fizeram do Iraque o seu centro e de Kufah sua capital. A Síria se tornou apenas mais uma das províncias do califado abássida e, no século IX, novas leis anti-judaicas e anti-cristãs foram criadas.


Em 850 e 854, ele [al-Mutawakkil] reviveu a legislação discriminatória contra os membros das seitas toleradas [judeus e cristãos], complementando-a com novidades que faziam dela a mais rigorosa já emitida contra as minorias.  Cristãos e judeus foram ordenados a fixar imagens de demônios de madeira em suas casas, a nivelar seus túmulos com o solo, a usar roupas amarelas e andar somente em mulas e jumentos com selas de madeira marcados por duas bolas parecidas com uma romã na patilha (parte posterior) da cela.
 ...após os decretos de al-Mutawakkil muitas famílias cristãs da Síria emigraram ou aceitaram o Islã. Os convertidos foram motivados, principalmente, pelo desejo de escapar das dificuldades humilhantes e tributos e para adquirir prestígio social e influência política. 
páginas 154 - 155

De acordo com Phillip Hitti, foi durante o califado abássida que todo o "mundo semita" foi arabizado.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Jizya - tributando os infiéis


O retorno da jizya. Historicamente, os não-muçulmanos tinham de pagar tributo aos seus mestres islâmicos. Esta prática foi interrompida no século 20, graças à intervenção européia. Hoje ele está de volta graças à intervenção ocidental.



Notícias estão chegando que a Irmandade Muçulmana e os seus simpatizantes estão forçando os cerca de 15 mil cristãos coptas da aldeia de Dalga, no sul da província de Minya, a pagarem a jizya – o dinheiro, ou tributo, que os "povos do livro" (judeus e cristãos) conquistados, historicamente, tiveram que pagar aos seus senhores islâmicos "com submissão voluntária e sentindo-se subjugados" para salvaguardar a sua existência, conforme indicado no Corão, Surata 9:29.

Esse idéia está fundamentada no tradicional conceito de dhimma (lei de proteção), estendido pelos conquistadores muçulmanos a cristãos e judeus em troca de subordinação. Todavia, o francês Jacques Elul, autoridade no assunto, assinalou: "Devemos nos perguntar: protegidos de quem? Quando o ‘estrangeiro’ vive em países islâmicos, a resposta só pode ser: dos próprios muçulmanos".

Os povos submetidos à lei islâmica em geral tinham que optar entre morte e conversão, mas judeus e cristãos, como adeptos das Escrituras, tinham permissão, como dhimmis (pessoas protegidas), para praticar suas respectivas crenças. Entretanto, essa "proteção" pouco fez para garantir que ambos fossem bem tratados pelos muçulmanos. Pelo contrário, um aspecto integral do dhimma era que, por ser um infiel, tinha que reconhecer abertamente a superioridade do verdadeiro crente: o muçulmano.

Nos primeiros anos da conquista islâmica, o "tributo" (ou jizya) pago anualmente como um imposto individual simbolizava a subordinação dos dhimmi. Mais tarde, o status inferior de judeus e de cristãos foi reforçado por uma série de regulamentos que regiam a conduta dos dhimmis. Sob ameaça de morte, eles eram proibidos de zombar do Corão, do Islã ou de Maomé, ou criticá-los; de fazer proselitismo entre muçulmanos ou de tocar uma mulher muçulmana (embora um muçulmano pudesse ter uma não-muçulmana como esposa). Os dhimmis estavam excluídos de cargos públicos e do serviço militar e proibidos de portar armas. Não podiam montar cavalos ou camelos, construir sinagogas e igrejas mais altas do que as mesquitas, erguer casas maiores do que as dos muçulmanos ou beber vinho em público. Eram obrigados a vestir roupas que os distinguissem e não podiam rezar em voz alta – já que isso poderia ofender os muçulmanos. Eles também tinham que se humilhar publicamente perante os muçulmanos, por exemplo, cedendo-lhes sempre a passagem nas ruas. Tampouco lhes era permitido apresentar provas contra um muçulmano diante de um tribunal e seu juramento na corte islâmica era inaceitável. Para se defender, o dhimmi tinha que pagar um alto valor por testemunhas muçulmanas, o que o deixava com poucos recursos legais quando prejudicado por um muçulmano.

No início do século XX, o status do dhimmi em terras muçulmanas não melhorou de modo significativo. H.E.W. Young, vice-cônsul britânico em Mosul (no Iraque), escreveu em 1909: "A atitude dos muçulmanos com relação a cristãos e judeus é a de um senhor com seus escravos, a quem trata com uma certa tolerância senhorial, desde que se mantenham no seu devido lugar. Qualquer sinal de pretensão à igualdade é prontamente reprimido."

A coleta da jizya de não-muçulmanos foi interrompida no século 20, graças à intervenção européia. Hoje, a jizya e outras injustiças contra os cristãos no Oriente Médio – na Líbia, Egito, Síria e Iraque – voltaram precisamente graças à intervenção ocidental, neste caso, o apoio dos EUA de Obama para a Irmandade Muçulmana e suas ramificações jihadistas.

Agora que os ataques contra igrejas cristãs no Egito têm diminuído, a segunda fase da jihad – ou seja, lucrar com o medo e o terror causado na primeira fase – está se instalando: notícias estão chegando que a Irmandade Muçulmana e os seus simpatizantes estão forçando os cerca de 15 mil cristãos coptas da aldeia de Dalga, no sul da província de Minya, a pagar a jizya.
Segundo o Padre Yunis Shawqi , que falou ontem aos jornalistas do Dostor em Dalga, todos os coptas na aldeia, "sem exceção", estão sendo obrigados a pagar o tributo, assim como seus antepassados ​​fizeram quase 1.400 anos atrás, quando a espada do islã originalmente invadiu o Egito cristão. Ele disse que o "valor do tributo e a forma de pagamento variam de um lugar para outro na aldeia, de modo que, de alguns espera-se pagar 200 libras egípcias por dia, outros 500 libras egípcias por dia ..."

 Em alguns casos, aqueles que não podem pagar têm sido atacados, suas esposas e filhos espancados ou seqüestrados. Como resultado, cerca de 40 famílias cristãs já fugiram de Dalga , juntando-se à lista crescente de cristãos deslocados no Oriente Médio. 

 E o mesmo ocorre na Síria e no Iraque. "Rebeldes" foram recentemente à "loja de um homem cristão e deram-lhe três opções : tornar-se muçulmano, pagar 70 mil dólares americanos como um imposto que incide sobre os não-muçulmanos, conhecido como jizya, ou ser morto junto com sua família.
Androus de Mosul, no Iraque diz que recebeu um pedido semelhante por telefone. 'Porque vocês são infiéis, vocês tem que pagar jizya", ele lembrou o que lhe foi dito pelo o telefone. "Ou você paga jizya  ou vamos matar você ou o seu filho."

"Combatei aqueles que não crêem em Alá nem no último dia, que praticam o que foi proibido por Alá e Seu Mensageiro, e não reconhecem a religião da verdade, mesmo que sejam dos Povos do Livro, até que paguem a Jizya com submissão voluntária, e se sintam subjugados ". - Corão 09:29


E você, já pagou sua Jizya? 

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Philip Hitti e o tratamento dispensado a cristãos sob domínio muçulmano


Philip Khuri Hitti (1886 - 1978), um cristão maronita nascido no Líbano,  foi um estudioso do Islã e  o responsável pela introdução do campo de estudos da cultura árabe nos Estados Unidos. Apesar de sua óbvia simpatia para com o pan-arabismo (algo não muito comum entre libaneses maronitas) e de seu anti-sionismo, ele oferece informações valiosas sobre a invasão árabe do Levante e a relação entre os conquistadores muçulmanos e outros grupos religiosos sob seu controle. 


Do seu livro A História da Síria (1956):
**Palestina e Jordânia eram províncias da Síria  [1]   [2]



A terceira classe consistia de membros de seitas toleradas que professavam religiões reveladas - cristãos, judeus e sabeus (sabianos)...  Na Arábia, no entanto, nenhum não-muçulmano era tolerado, exceto uma pequena comunidade judaica no Iêmen.

Este reconhecimento de seitas toleradas era condicionado ao desarmamento de seus devotos e a exigência de um pagamento de tributo (Jizya) por parte deles em troca de proteção muçulmana

Na Síria, os cristãos e os judeus eram geralmente bem tratados até o reinado de Umar II, o primeiro califa a impor restrições humilhantes sobre eles. Ele emitiu normas excluindo os cristãos de cargos públicos, proibindo que usassem turbantes e obrigando-os a cortar suas franjas, a vestir roupas diferentes e com cintas de couro, a montar [em animais] sem sela, a não construir locais de culto e a orar em voz voz baixa.

A pena para o assassinato de um cristão [pelas mãos] de um muçulmano, ele decretou, era apenas uma multa, e o testemunho de um cristão contra um muçulmano não era aceitável em um tribunal. Pode-se supor que esta legislação foi promulgada em resposta a demanda popular.


domingo, 24 de novembro de 2013

Muqaddasi, o historiador árabe que refuta as alegações palestinas

Muhammad ibn Ahmad Shams al-Din al-Muqaddasi (945 — 991) foi um historiador e geógrafo árabe nascido em Jerusalém.
Seu livro mais conhecido é Ahsan at-Taqasim fi Ma'arifat al-Aqalim, "Melhor classificação para o conhecimento dos climas (ou regiões)", escrito no ano de 985O livro é resultado das anotações que o autor fez ao longo de suas viagens pelo Oriente Médio
Além de trazer observações sobre povos, costumes, comércio e arquitetura dos lugares visitados, foi o primeiro livro de geografia árabe a incluir mapas coloridos.





Sobre Jerusalém:
Homens instruídos são poucos e os cristãos numerosos; eles não têm boas maneiras. Em locais públicos e nas hospedarias os impostos são pesados ​​em tudo o que é vendido; há guardas em cada portão e ninguém está autorizado a vender as necessidades da vida, exceto nos locais designados. Nesta cidade os oprimidos não têm socorro; os submissos são molestados e os ricos invejados. Jurisconsultos permanecem vazios e os homens eruditos não têm renome; também as escolas estão sem vigilância, pois não há palestras. Em todos os lugares cristãos e judeus têm a supremacia [são mais numerosos], e a mesquita não tem qualquer congregação ou assembléia de homens eruditos.
(página 274)

No livro, sempre que o autor se refere a cidade de Jerusalém ele a chama de Baytu-l-Maqdis -- Bayt al-Maqdis (Casa do Sagrado) --, uma versão arabizada de Beyt haMiqdash, o nome hebraico do Templo de Salomão.
Apesar de os muçulmanos atuais negarem até mesmo existência do Templo -- em sua tentativa de reescrever a história e negar a presença judaica na região --, os do passado assumiam que, além de Jerusalém ser uma cidade judaica, sua santidade se devia, justamente, a esta presença.
Nos dias de hoje os muçulmanos chamam a cidade de al-Quds (o sagrado), uma versão reduzida do antigo nome.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Said Akl, o poeta nacional do Líbano



Said Akl (em árabe: سعيد عقل) é considerado um dos mais importantes poetas modernos libaneses. Ele também é um grande defensor da identidade, do nacionalismo e do idioma libanês. Seus escritos incluem poesia e prosa, tanto em dialeto libanês quanto em língua árabe clássica. 

Akl nasceu em uma família cristã maronita na cidade de Zahlé, no Líbano. Após a perda de seu pai aos 15 anos de idade, ele teve que abandonar a escola e, posteriormente, trabalhou como professor e depois como jornalista. Depois estudou teologia, literatura e história islâmica, tornando-se um professor universitário e lecionando em diversas universidades libanesas e institutos de política.

Sua admiração pela história e pela cultura do Líbano fez com que ele nutrisse uma forte inimizade para com a língua e a cultura árabe. Este sentimento foi eternizado em uma de suas frases mais famosas: 

eu cortaria a minha mão direita só para não ser um árabe

Em 1968, depois de criar um "alfabeto libanês" de origem latina, composto de 37 letras, ele afirmou que o árabe literário desapareceria do Líbano.

Para Akl, o Líbano dos fenícios foi o berço da cultura e o herdeiro da civilização oriental, bem antes da chegada dos árabes no país. 

No video abaixo Akl exalta a invasão isralense do Líbano, ataca os palestinos e afirma que todos os libaneses deveriam sair às ruas para ajudar o exército de Israel a "limpar" o Líbano dos árabes-palestinos.



[Tradução]

Não há um segundo passo, há apenas um [passo] para o herói Beguin (então primeiro-ministro de Israel): limpar o Líbano dos palestinos. Isso é o que o Líbano quer.
Se isso não acontecesse eu me sentiria tremendamente infeliz, assim como o resto da população libanesa.

Assim que o exército israelense entrasse no Líbano, todo o Líbano deveria ter se levantado e lutado ao seu lado. Se eu tivesse um batalhão militar, eu iria agora mesmo lutar ao lado do exército israelense.
Hoje no meu jornal, eu agradeci ao exército israelense num editorial chamado "Israel está aqui". Eu escrevi: "estou feliz por dois motivos: porque o exército está salvando a nós e ao mundo e [porque] está mostrando a cabeça da serpente ao mundo -- que se chama terrorismo" -- e eu vou falar sobre isso depois. 
Mas eu também estou triste porque não somos nós que estamos salvando o Líbano com os Israelenses, salvando dessa imundice palestina racista e sanguinária, que lidera o terrorismo no mundo.

Pergunta: E por que você não tomou parte na operação?

Eu acredito que existam alguns políticos corruptos no Líbano, e a maioría deles está no governo. Eles não permitíram que os libaneses tomassem partido.
O povo libanês travou uma boa guerra contra os palestinos, mas [Yasser] Arafat enganou e extorquiu os países produtores de petróleo e agora tem mais de 70 bilhoes de dólares. Nesses últimos dois dias ele comprou líderes na Europa e nos Estados Unidos para agir contra você, para dizer que este exército [de Israel] que está salvando o Líbano é um invasor -- mas qualquer um que diga isso deveria ser decapitado!
Em nome do Líbano, eu te digo que esse é o único exército da salvação. 

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Egito, nazismo/fascismo e a Irmandade Muçulmana

Desde a deposição de Mohamed Morsi, 52 templos cristãos, da Igreja Copta, foram atacados no país, especialmente no interior — 17 desses ataques aconteceram nos últimos dois dias, depois do confronto entre o Exército e as forças da Irmandade Muçulmana, que resultaram em centenas de mortos. 
Organizações cristãs estimam em pelo menos 200 os cristãos assassinados por milícias islâmicas só depois da queda do líder da Irmandade Muçulmana.

File:Hassan al-Banna.jpg
Hassan al-Banna, o criador da Irmandade Muçulmana

No Ocidente, pouco se discute sobre as origens do islamismo radical e seu nível de inserção na cultura dos países muçulmanos. Não se trata de um fenômeno novo. O fundamentalismo político desenvolveu-se desde 1928, com a criação da A Irmandade Muçulmana (al-Ikhwan al-Muslimun) por Hassan al-Bana e meia dúzia de estudantes, no Cairo. Seu arcabouço doutrinário pode ser resumido em alguns pontos: rejeição ao colonialismo e aos valores ocidentais, retorno à pureza do Islã, sacrifício extremo pela causa, assistencialismo islâmico, tomada do poder político por meios revolucionários, refundação do califado unificado no mundo muçulmano, sob a autoridade exclusiva do Corão e abolição de todas as instituições implantadas no mundo islâmico pelo Ocidente, com a conseqüente extinção dos estados árabes tais como existem, além da eliminação de Israel.
A Irmandade Muçulmana (Al Ikhwan Al Muslimun), organização-mãe de numerosos grupos terroristas islâmicos, foi formada em reação à extinção do califado turco em 1924, decretada pelo reformador Kemal Ataturk, como conseqüência do fim do Império Otomano após I Guerra Mundial.  Hassan Al Banna, seu fundador, era um professor egípcio que, na época, denunciava  " a doença que reduziu aummah (comunidade muçulmana) ao seu estado atual" , o que o motivou, juntamente com outros cinco jovens – todos na faixa dos vinte anos – a criar a Irmandade.
Limitada inicialmente à reforma moral e espiritual, a Irmandade cresceu de modo impressionante e tornou-se a mais importante organização político-integrista do mundo. Entre os anos 30 e 40, contava com cerca de 500 mil membros no Egito, além de afiliados em todo Oriente Médio. Esse crescimento ocorreu devido às circunstâncias políticas do pós-guerra e aos seus métodos de organização. Quando a II guerra terminou,  a Irmandade era uma força política expressiva no Egito e jogou papel fundamental na luta contra a antiga ordem colonial dos britânicos e franceses. Seu objetivo era libertar a pátria islâmica do controle dos estrangeiros e infiéis (kafir) e estabelecer um estado islâmico unificado.
Al-Banna construíra uma organização forte e disposta a realizar essa meta, com proto-estruturas de governo, unidades com funções específicas (propaganda, relações com a imprensa, tradutores das várias línguas do Oriente Médio) seções que controlavam distintos segmentos da sociedade (camponeses, trabalhadores e profissionais liberais),  vínculos com o mundo islâmico, comitês especializados em finanças e assuntos legais e redes assistencialistas, estruturadas em torno de mesquitas e associações islâmicas de caridade.
Essa estrutura não era, entretanto, suficiente para levá-la ao poder político no Egito. Inspirado nos "camisas negras" de Mussolini organizou um braço paramilitar (cujo slogan era  "ação, obediência, silêncio, fé e luta"). Na realidade, contuituía um aparato secreto (al-jihaz al-sirri) e uma agência de inteligência para coordenar ataques terroristas e assassinatos.
Em 1948, depois de desempenhar papel central na mobilização de voluntários para lutarem na guerra contra os sionistas na Palestina e, assim, impedir a criação de um estado judeu, a Irmandade pensou estar preparada para lançar um golpe de estado contra a monarquia egípcia. Em 18 de dezembro de 1948, o Primeiro Ministro do rei Farouk, Nuqrashi Pasha. estancou a tentativa. Menos de três semanas depois, a Irmandade retaliou e assassinou Pasha. O governo, por sua vez, desencadeou uma perseguição à Irmandade, assassinando Al Banna e muitos de seus agentes em 12 de fevereiro de 1949.
Abalada pelo golpe, a Irmandade mesmo assim estava longe de ser destruída. Sob a liderança do ainda mais radical, Sayyid Qutb, ela continuou a lutar pela tomada do poder e reorganizou-se no inicio dos anos 50 , apoiando os Oficiais Livres liderados por 
Gamal Abdel Nasser, Mohamed Naguid e Anuar El Sadat, no golpe que destituiu a monarquia corrupta do Rei Farouk em 1952.
Não se pode compreender a doutrina islâmico fundamentalista sem que se mencione Sayyid Al- Qutb Ibrahim, o mais importante ideólogo da Irmandade e do pan-islamismo, figura lendária no Oriente Médio, morto por Nasser em 1966. Seu pensamento político literalista e revivalista fundamenta-se na idéia de que os homens devem ser governados pelas leis  extraídas do Corão (a Sharia), que provêm de Deus e não por suas próprias leis. Sua obra foi traduzida para o farsi (persa) pelo próprio Aiatolá Khomeini e suas idéias, desde a revolução islâmica de 1979,  têm sido colocadas em prática no Irã. A autoridade política, segundo essa concepção integrista, deve ser exercida por conselhos de doutores na Sharia.
Em seu mais influente livro, Os Marcos (Maalim fil Tarik), escrito em 1964, na prisão, Qutb explicita o seu conceito político anti-ocidental mais conhecido: a jahilya, ou ignorância pagã e rebelião contra Deus. Segundo ele, a "religião é realmente a declaração universal da liberdade do homem  sobre a servidão imposta por outros homens e da servidão aos seus próprios desejos, que é uma outra forma de servidão humana; é uma declaração sendo a qual a soberania pertence a Deus apenas e que somente Ele é o senhor de todos os mundos" Ainda conforme Qutb: "todo sistema no qual as decisões finais estão referidas as seres humanos e nos quais as fontes da autoridade são humanas, deificam os seres humanos por designarem outros que não Deus como soberanos sobre os homens. Essa declaração quer dizer que a autoridade usurpada de Deus deve ser reconduzida a Ele e que os usurpadores devem ser expulsos - aqueles que por si próprios tramam leis para outros seguirem, assim elevando-se ao status de senhores e reduzindo os outros ao status de escravos. Em suma, proclamar a autoridade e a soberania de Deus significa eliminar todo o domínio humano e anunciar a lei Daquele Que Sustenta o universo sobre o mundo inteiro. Nos termos do Corão. (Qutb, 1964: cap 4)
Muitos  simpatizantes da chamada, nos anos 60 e 70, posição não-alinhada, desconhecem que a Irmandade foi aliada de Nasser e depois destruída por ele, com o apoio da CIA e de agentes recrutados do aparelho de inteligência política nazista. Nasser é geralmente visto como uma figura histórica que resistiu aos interesses imperialistas franceses, ingleses e americanos. Recentemente, no entanto, foram divulgados fatos conhecidos apenas em ambientes acadêmicos restritos, com pouca  repercussão na imprensa. Tais fatos revelam que a CIA cumpriu papel importante no apoio ao movimento dos Oficiais Livres que derrubou Farouk.
Documentos "desclassificados" em 2001 pelo governo dos EUA, agora acessíveis no Archives Library Information Center/ National Archives and Records Administration.(NARA) revelam que tanto Nasser como a Irmandade tiveram na CIA uma forte aliada. A CIA recrutou vários membros do primeiro escalão da SS, trazidos para ara o Egito por Farouk após  II Guerra, com a ajuda do xerife de Jerusalém e líder da Revolta Árabe na Palestina (1936-39), Haj Amin El Husseini, que desde 1936 trabalhava com o apoio dos nazistas. Por meio de Reinhard Gehlen, ex-chefe da Inteligência Militar Alemã no Frente Oriental durante a 2ª Guerra (e, desde 1952, diretor da Agência Federal de Inteligência da Alemanha Ocidental- AFI) e sua rede de espiões que atuava na Europa, durante o auge da Guerra Fria -  formada por ex-agentes da Gestapo, ela apoiou Nasser no golpe contra a monarquia de Farouk.
O movimento liderado por Nasser derrubou Farouk, que abandonou o Egito e foi substituído por seu filho Ahmad Fouad, cuja posição de monarca tornou-se meramente decorativa, porque o país passou a ser controlado pelos militares nacionalistas. Em 1953, Fouad foi finalmente deposto, a monarquia extinta e criada a atual república, com Mohamed Naguid colocado na presidência.
Os alemães instalados no Egito por Farouk, colaboraram com os jovens militares liderados por Nasser e com a Irmandade Muçulmanapara derrubar a monarquia e continuaram a exercer forte influência no novo regime, sob monitoramento da CIA, que desde 1953 se aproximara de Nasser, devido ao interesse dos EUA em manter o Egito regime sob sua influência e afastar ingleses e franceses da região.
Naguid foi deposto por Nasser em 1954 e a CIA ajudou a organizar o serviço de inteligência e segurança externa de seu governo, numa operação conduzida por Allen Dulles, seu diretor desde 1953. Dulles recorreu ao General Gehlen para coordenar as ações no Egito. Gehlen designou Otto Skorzeny para a tarefa. Ex-coronel da SS, Skorzeny era um dos homens-chave da Rede Odessa - que obteve refúgio para membros do 1º escalão nazista da Argentina e no Egito, principalmente.
Skorzeny tivera uma passagem pela Espanha de Franco, depois de fugir de um campo de prisioneiros americano na Alemanha, em 1948, onde aguardava por novo julgamento militar, pois havia sido absolvido de algumas acusações de crimes de guerra, em 1947. Quando chamado por Gehlen, em 1953, Skorzeny estava na Argentina, onde fazia parte do círculo de assessores de Perón. Enviado ao Cairo, passou a assessorar Nasser pessoalmente, juntamente com Miles Copeland, que reportava diretamente a Dules. Ambos ajudaram a dizimar a Irmandade Muçulmana, então liderada por Sayd Qutb,  que havia apoiado o golpe de Nasser contra Farouk, mas logo passou a opor-se ao novo regime laico.
A aliança dos EUA com Nasser perdurou até 1956, mas desde 54, ao assumir o poder, o líder nacionalista passou a adotar posições independentes, que o confrontaram com ingleses e franceses, ao mesmo tempo que o distanciavam dos EUA e o  aproximavam estrategicamente da União Soviética, em busca de apoio militar e financeiro. Em 1956, a tentativa de nacionalizar o Canal de Suez deflagrou uma guerra com os israelenses, apoiados por ingleses e franceses, que enfrentaram a oposição dos americanos, até então mais interessados em manter relações próximas com o Egito e exercerem alguma forma de controle sobre o canal.
A decisão de Nasser distanciou-o dos EUA depois da Guerra de Suez, devido à aliança de Washington com Israel e o Egito tornou-se definitivamente aliado dos soviéticos. Nasser  manteve, no entanto, seus colaboradores e assessores alemães. O Egito passou a ser o principal reduto de oficiais da SS graduados, que foram integrados aos seus serviços de informação, à sua polícia política e ao seu sistema de propaganda.
Além de Skorzeni, entre os mais conhecidos, fixaram-se no Egito os generais da SS Oskar Dillewanger, chefe da Brigada Penal das SS, Heinrich Siliman, chefe da Gestapo no Ulm, Joachim Daumling, que chefiou a Gestapo en Dusseldorf e depois na Croácia, Alois Moser, que atuou na Ucrânia, o general de exército  Wilhelm Fahrmbacher, incorporado ao estado-maior egípcio, Johannes Von Leers, do Ministério da Propaganda de Goebels e que, depois de fugir para a Argentina, após a deposição de Perón, em 1954, transferiu-se para o Cairo, onde converteu-se ao islamismo e chefiou a Agência de Propaganda de Nasser. Skorzeny morreu milionário em Madrid, em 1975.
Qutb e a Irmandade Muçulmana, afastados por Nasser de qualquer influência no novo regime que ajudaram a implantar, aderiram à luta armada para derrubá-lo. Em fevereiro de 1954, a Irmandade foi tornada ilegal e em outubro do mesmo ano seus membros tentaram assassinar Nasser.
4 mil militantes da Irmandade foram presos e executados. Milhares fugiram para a Síria, Arábia Saudita, Jordânia e Líbano. Qutb, seu principal líder, foi sentenciado a dez anos de prisão. Ao ser libertado, planejou novo  atentado contra Nasser em 1965. Em 1966, depois de julgado, foi condenado e enforcado.
Integrista radical e antidemocrático, Qutb escreveu, entre outros, o ensaio Ma'arakutuna Ma'a al–Yahud (Nossa Luta com os Judeus - 1950), de grande penetração no mundo islâmico de hoje, no qual sustenta que a luta entre o Islã e os judeus é decisiva e definitiva e que os judeus não ficarão satisfeitos até que o Islã seja destruído..
Irmandade, no Egito, é dirigida atualmente por Muhammad al-Mahmud al-Hudeibi, de forma politicamente moderada. Atua fortemente também na Jordânia, Síria, Paquistão, Sudão, Arábia Saudita, Argélia, Marrocos, Tunísia, em países europeus e nos territórios ocupados palestinos. A Irmandade não apoiou oficialmente a 1ª Intifada, por exemplo, mas é a célula mater do Hamas e da Jihad Islâmica, cujos membros assassinaram, em 1981, o presidente  Anuar El Sadat e tentaram derrubar o regime, numa nova revolta armada sufocada pelo exército egípcio, sob a liderança de Osni Mubarak. Sua doutrina, no entanto, não se alterou e se expande pelas comunidades muçulmanas pelo mundo.
A Irmandade é a matriz dos grupos islâmicos radicais fundamentalistas palestinos. A Jihad continua atuando na clandestinidade no Egito e abertamente nos territórios palestinos sob ocupação israelense. O Hamas e a hoje pulverizada e globalizada Al  Qaida ( A Base)são movimentos que seguem à risca as diretrizes de Qutb. Osama Bin Laden foi discípulo do palestino Abdullah Zallam, ideólogo da Irmandade e professor  na Universidade Abd Al Aziz, em Jedah, Arábia Saudita. Em Jedah, Bin Laden associou-se ao médico egípcio Aymann Al Zawahiri, membro da Irmandade desde os 13 anos  e o segundo em comando da Al-Qaida. Na visão de grande parte dos muçulmanos, os dois representam a autêntica resistência islâmica aos valores do Ocidente, tal como defendida por Al Bana e Qutb, os primeiros a denunciarem  Israel como representante do imperialismo ocidental na região e a se insurgirem contra regimes alinhados às potências estrangeiras.