segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Arafat II, o homem da KGB



Como me disse o chefe da KGB, Yury Andropov, um bilhão de inimigos podiam infligir um dano maior aos Estados Unidos do que apenas alguns milhões. Precisávamos instilar um ódio de estilo nazista contra os judeus em todo o mundo islâmico, e fazer esta arma emocional gerar um banho de sangue terrorista contra Israel e o seu principal parceiro, os Estados Unidos.

-- Ion Mihai Pacepa



O general Ion Mihai Pacepa é um ex-oficial da Securitate, polícia política secreta romena, para quem começou a trabalhar em 1951. É o oficial de mais alta patente que desertou do bloco soviético. Fugiu para os EUA em 1978. Engenheiro de formação, é escritor e articulista.

Na época da deserção, era conselheiro do ditador romeno Nicolae Ceausescu, chefe do serviço de inteligência para assuntos exteriores e secretário de estado. Conhecia pessoalmente inúmeros tiranos de primeiro escalão, bem como as operações por eles levadas a cabo, como a Teologia da Libertação, o terrorismo islâmico, a operação contra o Papa Pio XII, só para citar algumas.

Por isso, a sua fuga foi o mais duro golpe sofrido pelo serviço secreto comunista. Pela deserção e pela contribuição ao Ocidente, Pacepa recebeu duas sentenças de morte emitidas por Ceausescu. O ditador também ofereceu um prêmio de 2 milhões de dólares por sua cabeça, quantia à qual se somou 1 milhão ofertado por Yasser Arafat e mais 1 milhão de Muammar al-Gaddafi.

O seu livro Red Horizons: Chronicles of a Communista Spy Chief, sobre a corrupção do governo Ceausescu, era tido pelo presidente Reagan como a sua “Bíblia para lidar com ditadores socialistas”. A obra foi grandemente responsável pela queda do tirano. Best-seller na Romênia, foi traduzido para 27 idiomas.


Segue abaixo o relato de Pacepa sobre Arafat e o terrorismo muçulmano financiado pela União Soviética:

Durante os anos 70, antes de minha deserção da Romênia para a América, quando abandonei meu posto de chefe da inteligência romena, eu era responsável por enviar a Arafat, em dinheiro lavado, cerca de US$ 200 mil por mês. Enviava também, semanalmente, dois aviões de carga para Beirute, equipados com uniformes e suprimentos. Outros países do bloco soviético faziam o mesmo. 

O terrorismo foi extremamente lucrativo para Arafat. De acordo com a revista Forbes, ele é, hoje, o sexto mais rico entre os "reis, rainhas e déspotas" do mundo, com mais de 300 milhões de dólares guardados em contas na Suíça.

"Fui eu quem inventou o seqüestro [de aviões de passageiros]", gabou-se Arafat na primeira vez em que o encontrei em seu quartel-general da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), em Beirute, no começo dos anos 70. Ele apontou para as pequenas bandeiras vermelhas pregadas em um mapa do mundo, afixado na parede. Neste mapa, Israel constava como "Palestina". "Estão todos aqui!", assegurou-me, orgulhoso. 
A questionável honra de ter inventado os seqüestros pertence, na verdade, à KGB, que seqüestrou um avião americano pela primeira vez nos anos 60, para a Cuba comunista. A inovação de Arafat foi a utilização de homens-bomba, um conceito de terror que atingiu seu ponto máximo com o 11 de setembro de 2001. 

Em 1972, o Kremlin colocou Arafat e suas redes de terror no topo da lista de prioridades dos serviços de inteligência bloco soviético, inclusive o que eu dirigia. O papel de Bucareste era criar uma imagem positiva de Arafat dentro da Casa Branca, pois éramos especialistas nisto. Já tínhamos obtido grande êxito em convencer Washington - e a maioria dos esquerdistas universitários dos EUA no período — de que Nicolae Ceausescu era, assim como Josip Broz Tito, um comunista "independente" com uma coloração "moderada". 
Em fevereiro de 1972, o chefe da KGB, Yuri Andropov, riu da capacidade americana de se iludir com certas celebridades. Havíamos superado os cultos de personalidade stalinistas, mas aqueles americanos loucos ainda eram ingênuos o bastante para reverenciar líderes nacionais. Transformaríamos Arafat justamente nesse tipo de líder, aproximando a OLP do poder, progressivamente. 

Andropov pensava que os americanos, cansados da guerra do Vietnã, agarrariam o menor sinal de conciliação para promover Arafat de terrorista a estadista em suas esperanças de paz. 
Logo após aquele encontro, recebi o "arquivo" da KGB sobre Arafat. Ele era um burguês egípcio, que a inteligência estrangeira da KGB transformara em marxista devoto. A KGB treinara-o em sua escola de operações especiais em Balashikha, a leste de Moscou, e em meados dos anos 60 decidiu prepará-lo para ser o futuro líder da OLP. 

Primeiro, a KGB destruiu os registros oficiais do nascimento de Arafat no Cairo, substituindo-os por documentos fictícios segundo os quais ele nascera em Jerusalém e era, portanto, palestino de nascimento. 
O departamento de desinformação da KGB passou então a trabalhar em um panfleto de Arafat de quatro páginas, intitulado "Falastinuna" ("Nossa Palestina"), acabando por transformá-lo em uma revista mensal de 48 páginas para a organização terrorista palestina Al-Fatah, dirigida por Arafat desde 1957. A KGB distribuiu esta revista para todo o mundo árabe e para a Alemanha Ocidental, onde residiam, à época, muitos estudantes palestinos. A publicação e distribuição dessas revistas era prática comum da KGB, que mantinha vários periódicos semelhantes, nas mais diversas línguas, para as organizações de fachada na Europa Ocidental — como o Conselho Mundial da Paz e a Federação Sindical Mundial. 

A seguir, a KGB construiu uma ideologia e uma imagem para Arafat, exatamente o que fez para comunistas leais de nossas organizações internacionais de fachada. O idealismo altruísta não tinha nenhum apelo popular no mundo árabe, e então a KGB remodelou Arafat, transformando-o em um furioso anti-sionista. Além disso, selecionaram para ele um "herói pessoal" — o Grande Mufti Haj Amin al-Husseini, o homem que visitou Auschwitz no final dos anos 30 e repreendeu os alemães por não estarem matando judeus em quantidade satisfatória. Em 1985, Arafat prestou homenagem ao mufti, dizendo que sentia um "orgulho sem fim" por estar seguindo os seus passos. 

Arafat era um agente secreto importante para a KGB. Logo após a Guerra dos Seis Dias de 1967, entre árabes e israelenses, Moscou conseguiu fazê-lo presidente da OLP. O ditador egípcio Gamal Abdel Nasser, marionete dos soviéticos, foi quem propôs sua nomeação. Em 1969, a KGB pediu a Arafat que declarasse guerra ao "sionismo imperialista" americano durante a primeira reunião da Internacional Terrorista Negra, uma organização pró-palestina e neofascista financiada pela KGB e pelo ditador líbio Muammar Kadafi. Arafat gostou tanto da idéia que, mais tarde, alegou ter sido ele próprio o conclamador da batalha contra o imperialismo sionista. Mas esta, na verdade, não passava de uma invenção de Moscou, uma adaptação moderna dos "Protocolos dos Sábios do Sião" -- ferramenta amplamente empregada pela inteligência russa para fomentar o ódio racial. A KGB sempre considerou que o anti-semitismo, somado ao antiimperialismo, daria uma riquíssima fonte de antiamericanismo. 

O arquivo da KGB sobre Arafat dizia ainda que, no mundo árabe, só quem sabe ser mentiroso consegue ser promovido a altos cargos. Nós, romenos, fomos designados para ajudar Arafat a aumentar sua "já impressionante capacidade de dissimulação". O chefe da inteligência estrangeira da KGB, general Aleksandr Sakharovsky, ordenou que déssemos cobertura às operações terroristas de Arafat, construindo, paralelamente, sua boa imagem internacional. "Arafat atua brilhantemente no palco", concluía em sua carta, "e devemos fazer dele uso devido". Em março de 1978, eu trouxe Arafat a Bucareste secretamente para que recebesse as instruções finais de como deveria se comportar em Washington. "Você simplesmente tem que continuar fingindo que vai largar o terrorismo e reconhecer Israel - repita isso vezes e vezes sem fim", disse-lhe Ceausescu pela enésima vez. Ceausescu estava eufórico com a possibilidade de que, tanto Arafat como ele mesmo, conseguissem ciscar um Prêmio Nobel da Paz com seus fingidos acenos do ramo de oliveiras. 

Em abril do mesmo ano (1978), acompanhei Ceausescu até Washington, onde ele encantou o presidente Jimmy Carter. Arafat, insistiu ele, transformaria sua brutal OLP em um governo no exílio cioso da lei, bastando para isto que os Estados Unidos estabelecessem relações diplomáticas com a organização. O encontro foi um grande sucesso para nós. Carter saudou Ceausescu, ditador do estado policial mais repressivo da Europa Oriental, como "um grande líder nacional e internacional", que "assumiu um papel de liderança em toda a comunidade internacional". Triunfante, Ceausescu trouxe para casa um comunicado conjunto onde o presidente americano salientava que suas relações amistosas com Ceausescu serviam "à causa do mundo". 

Três meses depois, recebi asilo político nos EUA. Ceausescu não conseguiu seu Nobel da Paz, mas, em 1994, Arafat conseguiu o seu — tudo porque continuou desempenhando magistralmente o papel que nós lhe havíamos dado. Ele transformara sua OLP em um governo no exílio (a Autoridade Palestina), sempre fingindo que acabaria com o terrorismo palestino quando, em verdade, nada fazia para isto. Dois anos depois da assinatura dos acordos de Oslo, o número de israelenses mortos por terroristas palestinos havia aumentado 73%. 

Em 23 de outubro de 1998, o presidente Clinton concluiu seu discurso sobre Arafat agradecendo-o por "décadas e décadas e décadas representando incansavelmente o desejo do povo palestino de ser livre, auto-suficiente e possuir um lar". 
O atual governo americano é capaz de ver o que há por trás da máscara de Arafat, mas se nega a apoiar sua expulsão publicamente. Enquanto isso, o velho terrorista já consolidou seu domínio sobre a Autoridade Palestina, e continua designando seus jovens seguidores para mais ataques suicidas. 

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